20.12.09

A bolsa e o surf

Estava outro dia tentando entender as oscilações da bolsa nestes tempo de crise ou pós crise. Não sei bem se ela já passou, porque nem consegui visualizar o tamanho direito. Vivemos num tempo tão digital e globalizado, que a crise atingiu países como o Brasil de maneira virtual. Ah, é uma beleza! Estamos preparados para crise, nossa economia está fortalecida, mas por via das dúvidas, as ações vão cair, o desemprego e os preços vão aumentar. Só para os outros países não acharem que estamos esnobando e também ficarmos bem alinhados com as tendências mundiais.

Mas atentando à bolsa, me veio o pensamento súbito de que o melhor paralelo para este investimento é o surf. Sou um investidor pífio e um surfista prego, mas as semelhanças são inegáveis se observadas a fundo.


Para começar a surfar, você precisa se preparar, saber os movimentos antes de entrar com a prancha na água e principalmente conhecer, mas conhecer mesmo, o lugar onde está entrando, senão pode se machucar ou machucar outra pessoa pra valer. Isto tudo, tendo como pressuposto que você já sabe nadar, ou seja, que já tem uma boa relação com o meio ambiente onde está se metendo.
Se resolve, ao invés disso, entrar numa quadra para jogar futebol, basquete, vôlei, sem saber muito bem o que está fazendo e fizer umas presepadas, o máximo que vai acontecer, é passar uns vexames e tomar uns xingos de seu time. Mas não vai comprometer a saúde, nem matar ninguém.

O mercado de aplicações é exatamente assim. Nunca vi alguém acabar com sua vida e perder todo seu dinheiro, aplicando na poupança. A poupança é o futebol para o brasileiro, todo mundo se sente a vontade lá e sabe o que está acontecendo. E digo mais, é o futebol sem a regra de impedimento.
Também nunca vi alguém contar que foi a falência, porque comprou tudo em diamantes ou ouro e eles perderam o valor.
E ainda, deve ser bem raro ouvir a seguinte frase: “Poxa, sabe aquele dinheiro da família que eu apliquei tudinho em imóveis? Pois é, desapareceu. De um dia para outro.” Está frase só pode ser falada por alguém que investiu em pousadas no litoral, no exato lugar onde aconteceu um tsunami.

Na bolsa e no surf, não há espaços para vacilos e trapalhadas, normalmente elas são bem caras e tem conseqüências sérias.

Um bom investidor sabe olhar para um gráfico de oscilação e entender o comportamento das ações, o momento certo de comprar e vender. Um bom surfista consegue olhar o tamanho e a seqüência para saber onde virá a próxima onda boa. Um bom investidor acompanha o movimento de negociações, demandas, fusões pelo mundo para saber o que vai subir. Um bom surfista acompanha as previsões do tempo, tempestades, deslocamento de massas para viajar em busca de ondas gigantes.

Eu queria surfar pra valer e viajar o mundo em busca de ondas. Também queria ter um amigo que estudasse o mercado financeiro para me dar dicas. Talvez a segunda ajudasse a primeira a acontecer.

Apenas mais um paralelo curioso. Dias de chuva são ruins para o surf. Acredite ou não, no último ano, na maioria de dias cinzentos e chuvosos a BOVESPA caiu. Vai entender.

9.12.09

Consultoria

Sempre achei engraçado, que um executivo que cobre e venda seus conhecimentos para os outros, é chamado de consultor ou ainda, empreendedor. Agora, um soldado, que venda seus serviços ou ensinamentos após uma guerra, é chamado de mercenário.

3.12.09

Amadou Diallo

Hoje, navegando pela internet, eu descobri que Amadou Bailo Diallo nasceu no mesmo ano que eu, apenas com alguns dias de diferença. Ou seja, deveríamos ter a mesma idade. Amadou foi morto há aproximadamente 10 anos, em 1999, durante uma abordagem feita por 4 policiais em Nova Iorque. O caso não ficou muito conhecido aqui no Brasil, e talvez não tenha repercutido muito pelo mundo, mas pelo que sei, nos EUA, ele foi uma daquelas notícias engasgadas, as quais ninguém consegue ou quer falar muito sobre. Aquelas, que embora precisem ser expostas, fazem a gente sofrer muito como homo sapiens.

Amadou assim como eu, nasceu na década de 70 em um país no hemisfério sul. Naquela época, nossos países eram chamados de 3º mundo ou subdesenvolvidos. Ele nasceu na África, passou algum tempo na Ásia e depois mais velho foi para os EUA, que antigamente era chamado de desenvolvido ou 1º mundo. Embora qualquer professor de geografia do primário explicasse que 1º, 2º e 3º mundo não eram posições de rankings, como bom competidor, eu sempre achei mais legal ser 1º do que 3º. Amadou devia achar algo parecido para tentar a vida nos EUA.

Ele foi morto com 41 tiros dados por 4 policiais, que alegaram legítima defesa, pois quando Amadou moveu sua mão para trás, acreditavam que ele ia pegar uma arma. Ele na verdade ia pegar sua carteira para mostrar os documentos.
Muito foi falado sobre preconceito na época, por Amadou ser negro e sem grandes posses financeiras.

Mas sem querer julgar ninguém, quando penso neste fato, de tempos em tempos, sempre me bate uma escassez de esperança sem tamanho. Independente de cor, fronteiras, religião, hemisférios, classes sociais, fico preocupado pela nossa espécie. Além da tristeza pelo fato em si, ele demonstra para mim, a falta de confiança total que o ser humano tem na humanidade. Não somos capazes de confiar em alguém a nossa imagem e semelhança, que apenas estica a mão em uma direção desconhecida. É humano esperar sempre o pior do ser humano (não sei se isto é uma afirmação ou uma pergunta).

É claro que nossa espécie é capaz de coisas geniais e sensíveis, sabemos disso. Mas em nossa própria sociedade, não permitimos que um ato de bondade seja trocado por um crime, julgamos os inconstantes e perigosos ao isolamento, buscamos sempre separar o joio do trigo. Queria por um instante ser capaz de nos ver pelos olhos de uma outra espécie.

Conheci o acontecido por uma música de um cara que sempre me faz acreditar um pouco mais nas pessoas. Engraçado.


American Skin (41 Shots) - Story

American Skin (41 Shots) - Video

The Awful Truth - Guns and Wallets


17.11.09



Adoro uma boa lista. Saiu uma legal pro final de 2009 (e da década de 00): os 100 discos mais importantes da década segundo o NME. Os "jurados" incluiam o Arctic Monkeys, Carl Barat, The Killers, Jarvis Cocker, Pete Doherty, Elbow, Johnny Marr, MGMT, Ian Brown, The Big Pink, Snoop Dogg, Alan McGee, Yeah Yeah Yeahs, Michael Eavis, mais um bando de gente da indústria e, claro, jornalistas e críticos de música.Vou comentar os primeiros 50 que estou com preguiça. Você encontra todos no site do NME.


Aí vai a lista até o 50:

1. The Strokes - "Is This It"
2. The Libertines - "Up The Bracket"
3. Primal Scream - "Xtrmntr"
4. Arctic Monkeys - "Whatever People Say I Am, That's What I'm Not"
5. Yeah Yeah Yeahs - "Fever To Tell"
6. PJ Harvey - "Stories From the City, Stories From the Sea"
7. Arcade Fire - "Funeral"
8. Interpol - "Turn On The Bright Lights"
9. The Streets - "Original Pirate Material"
10. Radiohead - "In Rainbows"
11. At The Drive In - "Relationship Of Command"
12. LCD Soundsystem - "The Sound Of Silver"
13. The Shins - "Wincing The Night Away"
14. Radiohead - "Kid A"
15. Queens Of The Stone Age - "Songs For The Deaf"
16. The Streets - "A Grand Don't Come For Free"
17. Sufjan Stevens - "Illinoise"
18. The White Stripes - "Elephant"
19. The White Stripes - "White Blood Cells"
20. Blur - "Think Tank"
21. The Coral - "The Coral"
22. Jay-Z - "The Blueprint"
23. Klaxons - "Myths Of The Near Future"
24. The Libertines - "The Libertines"
25. The Rapture - "Echoes"
26. Dizzee Rascal - "Boy in Da Corner"
27. Amy Winehouse - "Back To Black"
28. Johnny Cash - "Man Comes Around"
29. Super Furry Animals - "Rings Around The World"
30. Elbow - "Asleep In The Back"
31. Bright Eyes - "I'm Wide Awake, It's Morning"
32. Yeah Yeah Yeahs - "Show Your Bones"
33. Arcade Fire - "Neon Bible"
34. Grandaddy - "The Sophtware Slump"
35. Babyshambles - "Down In Albion"
36. Spirtualized - "Let it Come Down"
37. The Knife - "Silent Shout"
38. Bloc Party - "Silent Alarm"
39. Crystal Castles - "Crystal Castles"
40. Ryan Adams - "Gold"
41. Wild Beasts - "Two Dancers"
42. Vampire Weekend - "Vampire Weekend"
43. Wilco - "Yankee Hotel Foxtrot"
44. Outkast - "Loveboxxx/The Love Below"
45. Avalanches - "Since I Left You"
46. The Delgados - "The Great Eastern"
47. Brendan Benson - "Lapalco"
48. The Walkmen - "Bows and Arrows"
49. Muse - "Absolution"
50. MIA - "Arular"


Acho bem perfeito o Strokes encabeçar a lista; fiquei surpreso com o Libertines em segundo (mas acho correto); não gosto muito desse disco do Primal Scream; acho que o Arctic Monkeys foi um pouco beneficiado por ter lançado disco esse ano;comecei a gostar MESMO de YYY esse ano (pronto, falei;); esse disco da PJ é fodalhão (dá pra trocar de lugar com o Primal fácil); esse disco do Arcade Fire realmente é melhor que o Neon Bible; gosto mais de Interpol do que de Arcade (pronto, falei de novo); The Streets acima de Radiohead é uma heresia; me surpreendi com o At The Drive In por aqui, mas também concordo; o LCD demorou pra aparecer e eu acho o primeiro disco mais legal (apesar de All My Friends ser uma das músicas mais legais pra pular ever); Shins é pura alegria; hoje eu vejo que o Kid A e o Amnesiac eram apenas preparativos pro In Rainbows; Talvez o melhor disco do QOTSA; mais um do Streets não dá, né?; Sufjan Stevens é lindo mesmo, bem merecido; dois Stripes na sequência, mas eles demoraram pra aparecer; esse disco do Blur não chega a ser um primor, mas deve ter entrado pelo conjunto da obra; The Coral nunca bateu pra mim; Jay-Z eu pulo;Klaxons podia estar mais pra baixo; Libertines, mais pra cima; Rapture tá no lugar certo; e não sei muito do Dizze Rascal; Amy não podia faltar, na verdade demorou pra aparecer na lista, merecia mais; é demais ver o Johnny Cash aqui; perdi o show do Super Furry por causa do apagão; Fallen Angel é a música do Elbow; Bright Eyes me deixa triste; e lá vêm o YYY e o Arcade Fire de novo; até que enfim o Grandaddy; com o Babyshambles entrando, o Pete Doherty torna-se automaticamente o campeão dos primeiros 50, só deve ser ameaçado pelo Jack White; Spiritualized nem é a minha praia; gostei do Bloc party estar atrás do The Knife; eu jogaria Cristal Castles mais pra baixo; e o Ryan bem mais pra cima; e o Wild Beasts, pra baixo do Cristal Castles; sou dos poucos que não se empolgam com o Vampire Weekend (pronto, falei mais uma vez!); esse disco do Wilco eu jogaria lá pra cima, é muito foda; Outkast tem Hey Ya, aí é foda; Avalanches é legalzinho (bons de clipe);Delgados também; já Brendan Benson merece bem mais; Só por The Rat Walkmen já merecia um lugar; Muse é desnecessário, não entrava nos meus 50; MIA então, podia ir lá pro 90.

10.11.09

Bom Blackout

Adoro a nossa sociedade sem energia elétrica.
Depois das primeiras horas de caos, tudo fica tão calmo.


Nossa sociedade fica meio desesperada a principio, porque não sabe muito bem como se portar sem luz artificial. Ritmo é a base de tudo. E por algum motivo, achamos mais difícil achar o ritmo sem uma luz verde, amarela e vermelha piscando na nossa frente.
Mas acredito que todo mundo sofra de um efeito que eu chamei de “Efeito Fátima Bernardes”

Logo que a luz acaba no Brasil todo, a Fátima deve ficar desesperada e automaticamente correr para a redação da Globo, tentando descobrir: o que está acontecendo? Quais as dimensões da coisa? Quando vai se resolver? O que aconteceu? Qual a explicação técnica desta merda? (a Fátima não fala merda, mas deve pensar) Pode acontecer de novo?

Com o passar do tempo, ela deve ir se acalmando e percebendo que não existe motivo algum para pressa. Se o Brasil inteiro está sem luz, de que porra adianta eu correr com está notícia e colocá-la no ar?
Daí, no instante seguinte, ela deve pensar: será que tem água suficiente em casa para as crianças? Será que eu comprei velas? Será que tem fósforo? Será que se demorar vários dias para a luz voltar, os mercados vão abrir amanhã?

Vivendo o meu “Efeito Fátima Bernardes”, entrei em casa e acendi algumas velas hoje. E no escuro, vi várias coisas que nunca tinha visto em uma casa em que moro há mais de 3 anos.
Vivemos num mundo flat, tipo a iluminação do estúdio da Luciana Gimenez. Não tem desenhos de luz, não tem nuances, não tem sombras, não tem volume. Também pudera! Com energia e luz artificial bombando para todo lado. Daí fica foda ver os desenhos, as sutilezas, as ranhuras.

Acho que mais de 80% da população mundial, na qual me incluo, corre o dia todo para não ficar atrás de algo que nem sabe o que é. Pois bem, não sei se esta culpa é da energia elétrica, seria sacanagem demais despejar esta culpa carmal na coitada, mas que ela pelo menos é cúmplice, ah isso é.
É como a pólvora, a energia nuclear, o Power Point. Quem inventou, pode ter querido fazer uma coisa boa pra humanidade, mas muita gente ainda não aprendeu a usar e usa pro mal.

Acho que a gente merecia pelo menos uns TRÊS diazinhos sem energia elétrica para vermos os contornos de luz e as ranhuras um pouquinho melhor.

29.10.09

ER

Acabou ER.
Sempre que acaba uma série assim, me dá uma certa nostalgia imediata.
Penso incoscientemente que esta é a realmente a pegada da TV ao longo do tempo - visitar as pessoas em casa e criar hábitos. E que nenhum intelectual venha dizer que estes hábitos são massivamente impostos. Podem ser, isto não quer dizer que sempre sejam. Você não convida para entrar na sua casa, ainda mais durante um longo tempo, repedidas vezes, quem você não gosta. You can fool some people sometimes...

Me lembro de ter a mesma sensação ao ver o último episódio de Anos Incríveis, que eu considerava ser a coisa mais bem feita, escrita e executada da televisão, até os 15 anos de ER aparecerem.

É claro que a nostalgia se deve um pouco às personagens que têm histórias acompanhadas durante dias e dias e que você não encontrará mais. E no caso desta obra, feita com maestria, histórias que continuarão, mesmo sem serem vistas; exatamente como a vida de pessoas das quais, por algum motivo, você se aparta.

Mas realmente, o que me toca em peças como esta, é pensar que alguém as escreveu, alguém pensou na vida, no comportamento, nas ações e reações daquelas personagens. Estas são pessoas reais que se conectaram com outras, que tinham algo na cabeça, que se relaciona com tanta gente no mundo. É como se em algum lugar, aquelas personagem, aquela tragédia, aquele heroismo, realmente fizessem parte do DNA real da humanidade, porque as mentes das quais elas saíram fazem.

ER Pilot - First 11 minutes


ER - Last Scene

26.10.09

O que importa

Há vários anos, li algumas páginas das quais me lembro constantemente. Era uma história que falava como as escolhas são as coisas mais importantes da vida. Elas não definem quem somos, mas sim, o que vamos fazer com o que somos, com nossas habilidades, com nossas incapacidades, com nossos instintos, com nossos pensamentos, com nossa história.
Hoje, escutei que um homem tem aproximadamente 4 escolhas marcantes, que interferirão em toda sua vida, que estarão presentes em todos os outros momentos, em todas as outras decisões.
Creio que já fiz umas 2 escolhas dessas. Espero ter pelo menos mais 2; e fazê-las bem.

19.10.09

Desenhar é pensar

Curta com o Milton Glaser, falando sobre o desenho e o ato de desenhar. Sem saber, concordava com ele.

MILTON GLASER DRAWS & LECTURES from C. Coy on Vimeo.

15.10.09

Separados até que a morte os separe

Fui criado pelos meus pais em uma pequena casa onde, durante toda a minha infância, havia 1 banheiro. Até hoje, quando falo isso para minha esposa e alguns amigos, eles acham isso um absurdo.

Pensando bem, me dei conta de que todos os lugares, repúblicas, pocilgas, apartamentos em que morei, dispunham apenas de 1 banheiro também. Mesmo quando existiam 2 banheiros na planta da casa, o segundo não funcionava. Acho que sou homem de 1 banheiro só. Deve ser algum tipo de maldição.
Consigo até entender as facilidades que dois ou mais banheiros proporcionam. Eles devem diminuir e minimizar brutalmente alguns conflitos nas horas do rush domiciliar. O que eu não consigo entender é que dentro da mesma casa, um banheiro seja um terreno marcado, literalmente, por quem lá, mijou primeiro.
Não entra na minha cabeça, a razão pela qual algumas pessoas dizem que vão morar juntas ou se casar e daí separam tudo. Montam casas com banheiros separados, um para mulher, outro para o homem e muitas vezes, até os filhos tem banheiros individuais. Para que um moleque de três anos que nem sabe se limpar precisa de um banheiro?

As pessoas até montam casas para morar juntas, desde que as suas coisas não se misturem; o homem tem seu “quartinho” para suas “coisinhas”, a mulher tem seu quarto cheio de armários, e os filhos têm o espaço onde podem brincar. Ah, e é claro, cada um tem a sua televisão, nominal e intransferível com polegadas de acordo com a hierarquia que lhe cabe.
O metro quadrado dos cômodos e a geração das TVs variam de acordo com o poder aquisitivo, mas este fenômeno é observado desde a supernova classe média do ABC até as tradicionais famílias de Alagoas.

Daqui a pouco, vai virar moda os casais educarem seus filhos separadamente, apesar de estarem casados.
Em um casal com dois filhos, o marido cuida de um, a mulher cuida outro, assim não tem perigo de interferência, de um ensinar uma coisa errada pro filho que é responsabilidade do outro, assim a gente fica sabendo muito bem de quem é a culpa pelas cagadas do moleque.

Pois, é, morar sob o mesmo teto é uma coisa, morar junto é outra.

9.10.09

O basquete das meninas

Como é legal ver gente de talento fazendo uma coisa difícil dar certo.
Desde o século passado, amo, jogo, assisto basquete. Vi a WNBA nascer.
Vi um monte de gente dizendo que daria errado, que não teria espaço, que não teria mídia, que as meninas não teriam basquete suficiente para montar uma liga com a sombra da NBA.

A final da WNBA deste ano foi um espetáculo.
Realmente não foi igual a NBA. E só deu certo, por causa disso.
Indiana e Phoenix fizeram um baita jogo, ou melhor, um jogo histórico. Daqueles que os moleques daqui a 50 anos, que não conhecerão o mundo sem a WNBA, vão ver em documentários e contar como se tivessem assistido ao vivo.

Foi lindo para quem ama basquete. As meninas jogaram muito. Produziram lances raros e mostraram que fazendo a coisa de maneira séria e com profissionalismo, pode dar certo.
A história mostrou, mais uma vez, que a beleza do esporte é que depois que o jogo começa, a vitória não depende da aprovação de ninguém. Basta saber jogar.

8.10.09

Censura das oito

O Ministério Público do Rio encaminhou uma notificação ao autor Manoel Carlos, visando a readequação de uma personagem, vivida por uma atriz de 8 anos na novela “Viver a Vida”. A menina interpreta uma vilã. Não acompanho a novela, mas o fato no mínimo chama a atenção.

A notificação alega que a menina, por ter tal idade, não tem capacidade de suportar tal personagem e pode ter impactos psicológicos negativos por não saber separar a realidade da ficção ou sofrer pressão das pessoas contra sua personagem

Idéia pequena esta do Ministério Público, hein?
Primeiro e mais fundamental, toda esta argumentação da notificação, que eu resumi aqui (uma coisa que os advogados e juízes não têm é capacidade de síntese, né?!) pode ser a mais pura verdade como pode ser a mais deslavada mentira.
É como tentar prever um crime, enclausurando a vitima, antes do crime acontecer. Pode dar certo, mas a privação vale a pena?


Crianças são boas, más, educadas, mal-educadas, enfrentam dificuldades, chacotas, rótulos impostos pelos “amiguinhos” o tempo todo na mais crua e nua realidade de suas vidas. Agora a dramaturgia é um reflexo da vida, só isso. Ou proibimos o trabalho infantil na dramaturgia, ou o permitimos com o devido acompanhamento psicológico. Uma representação para verificar se a menina está tendo o acompanhamento adequado, isto sim, seria coerente, não este tipo de censura mascarada em forma de cuidados.
Macaulay Culkin deu uma piradinha, Val Kilmer deu uma bela pirada e nem era tão criança assim ao interpretar Jim Morrison, mas quantos atores e atrizes, mirins ou não, conseguem trabalhar sem problemas. Jodie Foster, por exemplo, interpretou personagens polêmicas em Taxi Driver e em Quando as Metralhadoras Cospem, depois envelheceu e amadureceu como pessoa e como atriz muto bem. Pelo que sei, a arte de atuar não está enquadrada entre os grandes trabalhos insalubres e de risco da humanidade.

Apesar de ser diferente, isto me lembra quando organizações que são compostas por uma minoria, que diz representar as minorias, não gostam que a dramaturgia dê destaque para personagens que se caracterizam por serem índios vilões, negros vilões, homossexuais vilões. Caramba, por que não? Só porque é da minoria (odeio esse nome “minoria”) não pode ser vilão? Se um é vilão, quer dizer que todo mundo com aquelas características é vilão? O argumento usado sempre é de que as minorias não são representadas nas telenovelas brasileiras adequadamente. Concordo!!! Mas já que alguém está fazendo algo errado, vamos cometer outro erro, só pra tentar empatar? Cuidado, a luta devia ser para acabar com o ciclo e não engrossar as bordas.

Para quem quiser ler a notícia.

7.10.09

Uma micronotícia, bem micro mesmo

Acabo de ver uma notícia no mínimo rasa no Jornal da Globo.
Ela falava que houve recordes de falência entre as empresas no último período avaliado no Brasil e que mais de 96% destas falências foram de microempresas.
A tal matéria apresentava um tom superior de sabedoria e sem se comprometer, discursava que o SEBRAE avalia, que as principais causas dessas perdas, são a falta de capacidade em gestão empresarial por falta dos microempresários e a falta de reconhecimento de mercado pelos mesmos.

Um dos principais entrevistados da matéria era o superintendente do SEBRAE, que afirmava que tais fatores são essências (não diga!) e que os microempresários brasileiros eram carentes de tais ferramentas.
Além do tom soberbo da matéria, o que mais me chamou a atenção é que nada foi aprofundado. Nem mesmo foi citado o aumento dos impostos recente para as microempresas. A taxação para uma empresa classificada no simples nos últimos reajustes subiu brutalmente. Quem presta serviços na área de produção, por exemplo, como muitos outros setores, tiveram um aumento de mais de 10% de tributação sobre qualquer trabalho realizado.

Isto seria como diminuir o gol, estabelecer que a regra de impedimento agora exija 3 adversários entre o atacante que é lançado e a linha de fundo, aumentar o peso da bola e daí, caso a média de gols do campeonato brasileiro caia, dizer que a culpa é meramente dos atacantes ou dos times despreparados.

Claro que existem vários microempresários que são despreparados, aventureiros ou precisam de ajuda, ou seja os fatos apresentados não deixam de ser verdade, mas quando levantamos um tema tão sério, que como a própria matéria apresentava, fala sobre/com pessoas trabalhadoras que geram 57% dos empregos do país, temos a obrigação de não sermos tão rasos ou soberbos e irmos um pouquinho além.

6.10.09

A lei do torcedor

Ainda na onda do policamente correto...

No início de um dia de trabalho, estava tomando café com alguns companheiros, quando a discussão de um velho assunto apareceu de uma nova maneira.
Um dos homens, pai de um pequeno menino, apresentava-se indignado com o fato de que seu filho sofrera uma intervenção descabida, realizada pelo seu professor de natação. O garoto, ao chegar para aula, vestindo um uniforme do Corinthians, tinha sido interceptado pelo professor, que afirmou que o agasalho do Corinthians era feio e o do São Paulo era bonito. O pai estava indignado, não simplesmente pelo fato dele mesmo ser corintiano e odiar o São Paulo, o que seria normal na lógica de torcedor, mas ele dizia estar bravo realmente como pai, por achar a intervenção do professor ilegítima. Falava ainda, que ia fazer uma reclamação oficial para diretoria da entidade que empregava o professor. E se fosse necessário tomaria as medidas legais para resolver o assunto. Iniciou-se daí, uma discussão, no meu ponto de visto saudável e extremamente importante na mesa.

Éramos cinco, todos profissionais do mercado de comunicação, então as opiniões, neste caso, são todas vindas de um universo social próximo em certa análise.
A maioria concordou com o pai, achando um grande absurdo na situação, pois o menino, ainda com três anos, está com a sua personalidade sendo formada.
Um professor jamais tem o direito de contestar posições sociais do aluno, contanto que elas não sejam desvios de caráter ou ilegais. E mais grave, por receber uma autoridade investida pelos próprios pais e pela escola, o profissional não pode distorcer o gosto e as escolhas da criança, quer elas sejam escolhidas pelo menino ou sejam ensinamentos dos pais ao guri. Isto poderia gerar traumas alarmantes ou silenciosos em uma personalidade em constituição. A atitude passa assim, a ser pouco educacional.
Além disso, o pai dizia não achar certo contratar uma pessoa, que sem motivos, criticava decisões dele para seu filho. Já que este é um papel, de decidir pelo garoto, cabe primeiramente aos pais até o momento em que o filho amadurece e pode escolher sozinho.

Eu, na verdade, concordei com tudo isso a não ser por um simples fato, que para mim parecia ser essencial na discussão. Estávamos falando sobre futebol. Levo muito a serio o esporte, e por levá-lo tão a sério, não posso deixar de acreditar que o esporte é extremamente divertido, e torcer por um time é uma emocionante brincadeira.
Considerando, pois eu não estava presente durante a ocorrência, que o professor fez um comentário sem maldade e violência, já que estava falando com uma pessoa de três anos com o qual tem algum laço de relacionamento, eu encaro o acontecido com certa relevância.
Óbvio que se houver qualquer intenção de agressividade impressa na situação, mesmo que verbal, isto faz do professor uma figura ridícula, a qual não pode nem permanecer próxima a crianças.

Se estivéssemos falando sobre religião, por exemplo, acho que o assunto seria mais delicado, mesmo acreditando que exista brecha para comentários, contestações e ensinamentos multilaterais, sempre que feitos com respeito. Mas tratando-se de um assunto tão profundo quanto crença religiosa, a autoridade precisa ser dada a alguém e em primeira instância acho que sempre deve ser dada aos pais.
Não acho que torcer por um time de futebol tenha tal profundidade, mesmo com algumas pessoas comparando o amor pelo time com algo santo, mesmo com a vitória ou a derrota de um time alterar tanto nossas emoções, mesmo eu tendo assistido a muito mais jogos do que missas em minha vida.
Veja, que sou torcedor apaixonado e praticante. E sou visceralmente, totalmente contra amigos, avós, tios, vizinhos, pessoas próximas, que levam pequenos uniformes, brasões ou qualquer tipo de manifestação provocativa aos pais até a maternidade no dia do nascimento do filho. Literalmente, se isso acontecer comigo, tais objetos sairão voando pela janela.

Acho que apesar da provocação saudável ser parte fundamental da torcida, é preciso ter limites e medidas para cada momento. Não gostaria de deixar para meu filho um mundo em que, pelo simples fato de torcer para um time diferente, uma pessoa agride a outra. Infelizmente, isto é uma prática comum. Espero que mude em pouco tempo. Acho que já estamos nos educando um pouco mais.
Mas também tenho muito medo de deixar para as próximas gerações um mundo politicamente correto em demasia, tão asséptico, que tudo seja regulamentado, legislado, carimbado e pré-avaliado.
Que mundo seria esse, sem confiar nem um pouquinho no ser humano? Será que a proteção valeria a pena? Prefiro deixar as coisas um pouquinho mais abertas, um pouco mais natural. Acho que pequenas provocações, pequenas porradas, pequenos conflitos fazem parte da vida, mesmo para uma criança e isto nos faz crescer, amadurecer e ficar mais fortes. E perceba que digo “pequenas e pequenos”. Sou a favor de que muita coisa, como a violência nos estádios e fora dele, seja legislada e coibida sem qualquer permissividade.
Mas prefiro um mundo em que a algumas coisas se afinem no âmbito da informalidade e não no âmbito oficial. Acho normal um professor fazer uma brincadeira sobre o time com um moleque, independentemente de sua idade. Acho normal o pai ensinar o filho a responder para o professor que são paulino é tudo bobo (creio que bambi seria um pouco demais para tal situação).

Sei que pelos pilares de educação da UNESCO, esta pode não ser a atitude mais correta, mas o que vou fazer? Prefiro um mundo assim. Acho normal também o pai virar para o professor e falar “Sou corintiano, meu filho é corintiano, não quero brincadeiras.”, mesmo que o argumento não seja tão racional.
Mas não acho nada normal a queixa no âmbito oficial ou legal. Senão, daqui a pouco, falar sobre futebol e adjacentes será enquadrado dentro dos assuntos em que todo mundo pensa 6 vezes antes de falar. Aqueles assuntos em que as pessoas acham bonito falar a resposta a qual todo mundo espera ouvir. Insisto, torcer por um time é tão emocionante, porque existem os adversários e dentro de limite saudável, nunca sabemos o que esperar.
E bem lá no fundo, não entendo porque tanta discussão, qualquer pessoa, com o mínimo de intelecto e bom senso, sabe que o agasalho santista é bem mais bonito do que dos gambás e dos bambis.

30.9.09

Comemorações

Aniversário, Natal, Ano Novo sempre mexem comigo. Mesmo que eu me prepare e jure que os próximos serão diferentes, é inevitável.

Aniversário me deixa deprimido. Me faz pensar em tudo que não fiz em mais um ano e ainda quero fazer na vida. Mas o tempo de jogo está diminuindo. Não sei se estou nos descontos do primeiro tempo ou no começo do segundo.

Natal me deixa reflexivo. Me faz pensar em tudo que preciso fazer para melhorar o mundo. Como tem muita gente pensando o mesmo, talvez dê tempo.

Ano Novo me deixa bêbado. Me faz esquecer que quero e preciso fazer um monte de coisas. Como um ano já foi mesmo e outro está só começando, amanhã dá para descansar.

Minha vida é um baita ciclo vicioso.

26.9.09

O prefeito do universo

Não importa o critério que escolhamos para dividir ou entender nossa sociedade, norte e sul, ocidental e oriental, geopolítica, étnica, religiosa, histórica, existe um elemento que impera no modo em que nos organizamos: a representatividade.
Sempre buscamos, elegemos, reconhecemos, descobrimos líderes capazes de representar nossos traços mais intrínsecos, aquilo que nos define. Líderes que sejam capazes de manter nossas conquistas e conquistar nossos novos desejos e pedidos.


É assim que a maioria de nossa sociedade funciona. Nos juntamos para ganhar força e aceitamos/delegamos o poder de/para um representante do grupo.

Síndicos de prédio, líderes de classe no colégio, vereadores, padres, rabinos, lamas, senadores, senhores feudais, gerentes, diretores, governadores, presidentes, generais, juízes, reis, rainhas, papas. Esta lista tende ao infinito.

Agora, existe uma extensão em que o ser humano não consegue achar representatividade, ou em que pelo menos, não houve acordo nos últimos milhares de anos: o âmbito geral.
Esta ausência, este conjunto vazio diz muito sobre nosso comportamento social.
E que ninguém venha me falar que a ONU representa a humanidade, por favor. Este texto trata de um assunto lúdico, mas está longe de ser uma piada.
Não conseguimos estabelecer esta representatividade, porque não nos vemos como iguais, não nos colocamos no todo, não toleramos as diferenças realmente e não estamos nem perto de atingir esse nível de aceitação. E mais, será que queremos? Será que não achamos que isso podaria nossa identidade?

É aí que nasce o conceito do PREFEITO DO UNIVERSO.
Como nossas bobagens e nossos acertos já ultrapassam a fronteira mundial, é melhor pensar em um alguém que suporte um cargo para decisões universais.

E quem muito além de representar a todos, se enxerga como igual a todos?
Quem é a pessoa na história atual da humanidade que teria habilidade para cuidar do geral?
Quem conseguiria tomar as decisões necessárias sem privilégios, sem protecionismos e com coragem de agradar ou desagradar, sem dar atenção para esta bobagem de aprovação?
Quem seria capaz de não ficar calculando as diferenças entre o bem da maioria ou os direitos de todas as minorias? Dane-se a maioria e as minorias. Quem seria capaz de enxergar o que precisa ser feito e fazer?
Quem teria a sabedoria para evitar o desastre, se fosse possível; ou provocaria o cataclismo de uma vez, se fosse necessário?

Quem é o nosso representante definitivo? Quem seguraria este pepino?
Quem é o candidato ideal para ser o PREFEITO DO UNIVERSO?

22.9.09

A professora e o muro

Numa cidade do interior do Rio Grande do Sul, uma professora fez um aluno de 14 anos pintar o muro da escola que ele havia pichado.
A escola tinha sido pintada, antes do ocorrido, durante um mutirão feito pela comunidade local.
Como o mundo ficou sabendo dessa notícia? Um colega de classe gravou o vídeo no celular que se espalhou, óbvio.

A mãe do aluno, achando que o filho foi humilhado, apresentou uma queixa no conselho tutelar da cidade.
Se eu fosse o “conselho tutelar de um homem só”, plagiando um gaúcho mais ou menos famoso, esta decisão seria bem complexa.


Já tive a oportunidade de presenciar alguns mutirões de reformas em escolas situadas em lugares extremamente carentes de recursos para educação.
Vi o quanto a comunidade e principalmente as crianças valorizam pequenas melhoras feitas ao local para onde elas se locomovem todos os dias, às vezes sem acesso a transportes públicos.
Vi escolas que eram dentro de currais. Vi escolas que pareciam currais. Vi escolas dentro de garagens em que o bebedouro ficava ao lado do escapamento de um carro.
Vi como uma simples pintura pode incentivar os pequenos a irem para aula por alguns dias. O ser humano é um bicho engraçado. Mas este não é o ponto aqui, vamos ao que interessa.

A professora, além de fazer o aluno repintar o muro, ofendeu o garoto verbalmente, chamando-o de bobo da corte.
Neste momento, ela perdeu toda razão. A ofensa não faz nenhum impasse progredir; pode até desopilar o fígado e ser necessária em alguns momentos, mas não resolve nada, ainda mais em uma sala de aula.

Agora, eu não tenho dúvidas de que se chegasse aos meus ouvidos que meu filho havia pichado o muro de seu colégio e a professora tinha feito ele pintar novamente a parede, eu iria imediatamente para escola. Iria dar parabéns à professora pela rapidez e eficácia na sua atitude e também agradecer a ela, pois saberia que além de mim, alguém está realmente prestando atenção e se esforçando par tornar meu filho um cara decente.

Às vezes, nós erramos e acertamos quase ao mesmo tempo. Nestas horas, a análise deve ser feita com muita clareza, pois uma coisa não legitima nem desvalida a outra.
A professora cometeu um erro crasso ao ofender o aluno, isto sim, merece interferência e medidas. Mas, ela acertou imensamente ao fazer o garoto reparar seu estrago, já que ele tinha esta oportunidade. Não é sempre que não temos a chance de reparar os estragos que fazemos. Isto é bem melhor do que obrigar um garoto a colocar as mãos para trás e pedir desculpas. Uma desculpa em alguns casos não basta, ainda mais quando você não tem a dimensão de sua atitude. Esta professora ajudou o garoto a ter a compreensão de seus atos.
E veja, que não estou falando puramente da pichação. Acho que em algumas instâncias, ela é muito representativa e válida. Mas qualquer cidadão precisa respeitar e compreender o valor do trabalho alheio.

Quem dera a vida fosse sempre assim. Pegou, devolva. Mentiu, fale a verdade. Votou errado, aprenda a votar. Superfaturou, restitua com juros. Indicou um parente para o seu gabinete, ambos percam o emprego. O Brasil precisa que mais gente comece a pintar os muros que picharam por aí.

Quem quiser ler a notícia clique aqui.

9.9.09

Um símbolo infantil - A coxinha

A descoberta de que o senado brasileiro é corrupto, o quase fim da crise mundial (que nem foi tão mundial assim), o sumiço do cantor Belchior (diga-se de passagem, ele estava meio sumido há 20 anos), a queda da taxa dos juros - entre as várias notícias que foram eleitas para povoar a mídia nos últimos dias, uma decisão jurídica importantíssima passou quase desapercebida, se não fossem algumas vozes abafadas, quase silenciadas: a proibição da venda de coxinhas e afins nas cantinas escolares de São Paulo.

De bate pronto, este assunto pode ser engraçado e ter sua importância subestimada, mas analisando suas conseqüências a fundo, ele é algo de suma relevância em um retrato da sociedade que estamos construindo.

A primeira controvérsia é o absurdo de se proibir a venda de coxinhas nas escolas infantis, quando os refeitórios de qualquer empresa podem continuar servindo a guloseima para adultos. Se tem uma fase da vida em que a gente pode comer as coisas sem grandes traumas, culpa, pesos na consciência e na barriga, esta fase é a infância. Toda criança tem um metabolismo incrível e um poder de adaptação melhor ainda.
Claro, que não sou nutricionista e não estou expondo nenhum dado científico aqui, mas estou falando de bom senso. Quando nos tornamos adultos, pensamos no peso, no colesterol, no cardilogista que vai encher nosso saco, no endocrinologista que vai encher nosso saco, na nutricionista que vai encher nosso saco, no tanquinho do Brad Pitt, na barriga da Julia Roberts. Para uma criança, este universo da culpa criada pelo desgraçado que inventou o termo “qualidade de vida” não existe. Ou alguém se lembra de já ter visto uma cena assim quando criança:

SALA DE AULA – 7 DA MANHÃ
Na classe da 4ª B, a professora faz a chamada. A classe está cheia de alunos.

Ação principal: Professora (23 anos), Mariana (9 anos), Naiara (9 anos), Aluna 3 (10 anos).

Obs.: A aluna 3 é repetente.

Professora: Mariana?
Mariana: Presente.
Professora: Naiara?
Naiara: Presente.
Professora: Pedrinho?... Pedrinho?
Aluna 3: O Pedrinho faltou, professora.
Mariana: Nossa, o Pedrinho faltou de novo?
Aluna 3: Pois é... é que o triglicéries dele está muito alto.
Mariana: Sério?
Aluna 3: Sim, ele não sabe mais o que fazer.
Naiara: Eu ouvi dizer que a Julinha da 3ªB teve isso o ano passado e ela foi num médico ótimo. Mas, ela não pode comer Bolin Bola e pipoca doce até hoje.
Aluna 3: É... triglicéries é coisa séria.

Poxa, criança deve esquentar a cabeça com as coisas da infância, que digamos de passagem já não são poucas. É uma falta de generosidade querermos que os guris levem uma vida com a privação adulta.
Eu ainda me lembro da minha época de moleque no colégio de freiras em que eu juntava dinheiro para poder comprar as fichinhas redondas coloridas de plástico vendidas na cantina, as quais você trocava por lanches. Não era permitido comprar diretamente o lanche com dinheiro, você precisava possuir as fichas coloridas, só elas te davam direito ao lanche. Somente anos mais tarde, fui perceber que as fichinhas redondas de plástico das freiras, tão presentes na memória da minha infância, eram na verdade fichas de cassino.
Me recordo de todos os meninos e meninas de fichinhas coloridas em mãos, aguardando a “Tia da Coxinha” chegar. A “Tia da Coxinha” era uma figura recorrente em quase todos os colégios de Santo André. Vários amigos meus, que estudavam em outras escolas também lembram das suas “Tias da Coxinha”. No meu colégio, esta figura era representada por uma senhora negra de cabelinhos brancos, que um pouco após ao sino do recreio soar, chegava com uma cesta de palha muito maior do ela carregada de coxinhas, bolinhos de carne e esfihas. As crianças a cercavam imediatamente e ela mal consegui chegar ao seu destino, que era balcãozinho de madeira onde apoiava a cesta e trocava quitutes por fichas de cassino. Parecia uma espécie de pop star, tentando atravessar uma multidão.
Logo que ela abria a cesta de palha, subia aquela fumaça e saía aquele cheiro de coxinha feita na hora. Era a realização plena da molecada. Depois de comer uma coxinha, ou um bolinho, todo mundo ia jogar bola feliz. Tinha dias que eu não tinha grana para comprar a famosa coxinha, mas não fazia mal, sempre tinha alguém para te dar um teco, que seria retribuído, quando a coxinha fosse minha.
Não me sai da cabeça o pensamento de como seria esta cena hoje em dia nas esolas em São Paulo. A velha senhora negra de cabelinhos brancos vendendo suas coxinhas no meio da criançada e sendo bruscamente abordada por um tropa de elite de fiscais. A velhinha correndo, tentando esconder e se livrar das coxinhas, os policiais derrubando e chutando a cesta no chão, as crianças enchendo a boca para comer tudo de uma vez e os fiscais fazendo elas cuspirem e vomitarem para terem a prova do crime.

Pois é, com esta proibição, o que as cantinas vão vender agora? Imagine só, se a “Tia da Couve Flor Cozida” vai fazer sucesso, ou então, a “Tia da Proteína de Soja”. Ou pior, imagine como serão as lembranças dessas crianças no futuro.

A coxinha, além de tudo, é um símbolo do politicamente incorreto, daquilo que a gente sabe que não é muito certo, mas vale a pena.
Fico com medo e rezo para que não criemos de jeito nenhum uma geração de soldados politicamente corretos. A vida politicamente correta pode ser muito chata e perigosa. As crianças já não brincam tanto na rua hoje em dia, não assistem mais ao Mussum, o Pica-Pau já não faz tanto sucesso, a TV Pirata não está mais nos planos da Globo, o Jô Soares nunca mais se vestiu de Capitão Gay, Jânio Quadros não pode mais ser prefeito e agora, a coxinha foi proibida nas cantinas. O mundo está ficando monótono.
É engraçado que tenha que vir dos EUA, o país que praticamente inventou o politicamente correto, a nossa última esperança. Homer Simpson, por favor, salve para nossas crianças de uma vida na Suíça!

Reis

Vi muitas pessoas nos dias que sucederam a morte de Michael Jackson, tentando estabelecer rankings entre Michael e Elvis.
Talvez estas comparações aconteçam pelo simples fato dos dois artistas se enquadrarem na mesma categoria de profissão na declaração do imposto de renda, uma idéia que só pode acontecer no âmbito dos mortais na tentativa de achar medidas, métricas, números para algo que não se mede.
Acho estes julgamentos puras bobagens, não há como comparar genialidade. Não há como comparar arte. Não há como comparar seres humanos que transcendem os limites da lógica em qualquer que sejam suas áreas.


Óbvio que você pode gostar mais de um artista do que de outro, mas gosto é gosto e não se discute. Mesmo no esporte, em que os números (de gols, de vitórias, de pontos, de títulos) definem primeiros, segundos e terceiros é quase impossível comparar jogares geniais legitimamente, quando levados em conta, além dos números, fatores como talento, inteligência, habilidade e espírito vencedor.
Na música então, fica mais, muito mais difícil. Mas foi engraçado pensar quais critérios este ranking sem sentido teria:

Elvis foi rei do rock. Michael, rei do pop.
Elvis foi protagonista em 31 filmes. Michael reinventou o videoclipe.
Elvis fez um show no Hawaii mais visto do que a chegada do homem à lua. Michael consagrou o Moonwalker.
Elvis vendeu mais de 1 bilhão de discos. Michael tem o disco mais vendido da história.
Elvis dançava de um jeito que ninguém conseguia imitar. O mundo inteiro tenta imitar os passos de Michael.
Elvis balançava a pelvis. Michael punha a mão lá e dava um gritinho.
Elvis morou em Graceland. Michael em Neverland.
Elvis morreu sozinho. Michael também.
Elvis se vestia com roupas brilhantes. Michael com roupas rasgadas.
Elvis teve um caso com a fascinante Ann Margareth. Michael namorou com a estonteante Brooke Shields.
Elvis ficou amigo de Sammy Davis Jr. Michael homenageou Sammy Davis.
Elvis casou-se com Priscilla. Michael com Lisa Marie.
Priscilla quis se divorciar de Elvis. Lisa de Michael.
Elvis cantou algumas músicas dos Beatles. Michael comprou os direitos autorais dessas músicas.
Elvis ficou atrás das grades em Jailhouse Rock. Michael pagou fiança.
Elvis nunca fez shows fora dos Estados Unidos e Canadá. Falam que Michael veio de outro planeta.
Elvis engordou. Michael emagreceu.
Elvis will be always on my mind. Michael will always be there.
Elvis cantava como um negro. Michael também.
Elvis é melhor do que Sinatra? E Michael?
Michael será lembrado para sempre. Elvis não morreu.
Elvis é incomparável. Michael também.

25/06/2009

Há algumas horas, acredito que o Michael Jackson tenha morrido. Digo acredito, pois só vou ter certeza mesmo, depois que colocarem o corpo no caixão, jogarem terra em cima e ele não quebrar tudo, ressurgir, sair cantando e dando risada.



A morte do cara realmente me fez pensar em algumas coisas e também observar algumas pessoas ao meu redor, que se tocaram de algumas formas estranhas e inesperadas.
Ao sair do trabalho, entrei em um táxi e dei a notícia para um taxista, que não era uma das pessoas que trabalham “plugadas no monitor” e que acompanharam a notícia sair de homepage em homepage até chegar na CNN e todo mundo ter certeza do óbito. O taxista e eu começamos a conversar sobre o ocorrido e ele, um motorista de 42 anos, se lembrou que quando jovem imitava os gestos e queria dançar igual ao Michael Jackson. Claro que isto não é algo magnífico ou isolado, pois qualquer um, que tenha vivido os anos 80, já tentou pelo menos uma vez dar uma dançada igual Beat It ou Billie Jean. Eu mesmo, loiro, branquelo e latino já tentei. Mas o que me chamou atenção é que quase todo mundo a minha volta, inclusive a moçada mais nova no trabalho, na casa dos vinte e poucos anos, que nasceu depois do Thriller, na hora que soube da notícia, pensou sobre o melhor que o cara já tinha feito, ou pelo menos puxaram as boas lembranças que tinham. Claro, excetuando-se as piadas imediatas e oportunas pelo Twitter. Para mim, que nasci em 1975, foi inevitável pensar que havia morrido uma das forças, uma das marcas, que formaram a imagem da minha geração para ela mesma.

Mas foi inevitável também um pensamento bem simples e direto – será que ele, “o cara” com 50 anos, morreu realizado? Será que morreu se achando um cara de sucesso? Será que, talvez o artista mais completo e visado dos últimos anos, quando percebeu que era a “hora” estava em paz consigo mesmo?
Lógico que é impossível responder isso, a não ser que você seja aquele moleque do Sexto Sentido. Mas uma medida externa que pensei é: Será as pessoas trocariam de lugar com o Michael Jackson? Mas digo trocar de lugar mesmo, sem condições, sem poréns. Você toparia o sucesso, ter suas idéias reverenciadas no mundo todo, ser reconhecido como gênio em seu trabalho por merecimento, ter êxito em quase tudo, conhecer o mundo, conhecer todo tipo de gente, ter grana que parecia infinita, realizar praticamente todos seus desejos, mesmo que depois o preço a ser pago fosse a perda quase total do seu equilíbrio físico e provavelmente psicológico? Você aceitaria numa boa que as pessoas te acusassem de pedofilia, de racismo, de insanidade e de irresponsabilidades infindáveis? Você trocaria sua vida pela dele e ao final ainda falaria “tá beleza, tudo valeu a pena”?
Não sei se eu toparia, mas como alguém que não era mais fã do Michael Jackson desde os meus 12 anos de idade, considero que com todas as loucuras, processos, deformações, o “negão” teve uma vida de sucesso, fez a diferença.

A partir do momento em que você topa viver dentro das regras de uma sociedade, sua vida passa a pertencer parte a você, parte a essa própria sociedade. Suas decisões devem passar pelo crivo das decisões tomadas pela sociedade por você. Isso é normal na vida de todo ser social, mas a independência para ousar, acertar, se enganar e se avaliar individualmente é essencial para seguirmos em frente, aprendermos, progredirmos, fazermos coisas novas. O que me parece triste na vida de grandes estrelas que criam/dependem do interesse avassalador do público é que embora pareçam portadores de um poder imensurável, a parte de suas vidas que pertence a eles mesmos, a independência, a vontade própria, ficam tão destorcidos, tão sem sentido, que perdem a razão de ser. É como se a vida não pertencesse mais a quem a vive, mas fosse um domínio público descabido e perigoso. É como se a auto-avaliação não importasse mais. Você já é dono de tantas realizações, que toda e qualquer avaliação só vale ser feita no âmbito coletivo mundial. Talvez seja por isso, que vi várias pessoas, fãs de músicas, dizendo que o verdadeiro Michael Jackson morreu logo após o álbum Thriller. Talvez o artista, aquele que fez coisas geniais, tenha conseguido levar a carreira ao ápice até ali e depois tenha ficado difícil demais recobrar o parâmetro, o centro, o equilíbrio, a reflexão solitária, tantas vezes necessária, para fazer algo puro, sem qualquer interferência.

No fim das contas, a frase, dentre as músicas dele, que me veio a cabeça foi I'm gonna make a change / for once in my life / It's gonna feel real good, / Gonna make a diference / Gonna make it right...
Eu sempre adorei este clipe, desde a primeira vez que vi e com certeza essa é a estrofe que eu colocaria nos dizeres da lápide do cara. Óbvio que, nenhum assessor de imagem aprovaria, pois falariam que “I am gonna make a change”, daria brechas para falar que ele mudou de rosto, de cor, etc. Mas se o mundo não tivesse assessores de imagem, está é a frase que deveria estar escrita lá.

24.8.09

Certo, começa o jogo.
Aqui, a gente manda.

Não formatei nada ainda, mas resolvi começar, senão não rola nunca;)

Essa semana eu  dou um tapa no layout.