29.10.09

ER

Acabou ER.
Sempre que acaba uma série assim, me dá uma certa nostalgia imediata.
Penso incoscientemente que esta é a realmente a pegada da TV ao longo do tempo - visitar as pessoas em casa e criar hábitos. E que nenhum intelectual venha dizer que estes hábitos são massivamente impostos. Podem ser, isto não quer dizer que sempre sejam. Você não convida para entrar na sua casa, ainda mais durante um longo tempo, repedidas vezes, quem você não gosta. You can fool some people sometimes...

Me lembro de ter a mesma sensação ao ver o último episódio de Anos Incríveis, que eu considerava ser a coisa mais bem feita, escrita e executada da televisão, até os 15 anos de ER aparecerem.

É claro que a nostalgia se deve um pouco às personagens que têm histórias acompanhadas durante dias e dias e que você não encontrará mais. E no caso desta obra, feita com maestria, histórias que continuarão, mesmo sem serem vistas; exatamente como a vida de pessoas das quais, por algum motivo, você se aparta.

Mas realmente, o que me toca em peças como esta, é pensar que alguém as escreveu, alguém pensou na vida, no comportamento, nas ações e reações daquelas personagens. Estas são pessoas reais que se conectaram com outras, que tinham algo na cabeça, que se relaciona com tanta gente no mundo. É como se em algum lugar, aquelas personagem, aquela tragédia, aquele heroismo, realmente fizessem parte do DNA real da humanidade, porque as mentes das quais elas saíram fazem.

ER Pilot - First 11 minutes


ER - Last Scene

26.10.09

O que importa

Há vários anos, li algumas páginas das quais me lembro constantemente. Era uma história que falava como as escolhas são as coisas mais importantes da vida. Elas não definem quem somos, mas sim, o que vamos fazer com o que somos, com nossas habilidades, com nossas incapacidades, com nossos instintos, com nossos pensamentos, com nossa história.
Hoje, escutei que um homem tem aproximadamente 4 escolhas marcantes, que interferirão em toda sua vida, que estarão presentes em todos os outros momentos, em todas as outras decisões.
Creio que já fiz umas 2 escolhas dessas. Espero ter pelo menos mais 2; e fazê-las bem.

19.10.09

Desenhar é pensar

Curta com o Milton Glaser, falando sobre o desenho e o ato de desenhar. Sem saber, concordava com ele.

MILTON GLASER DRAWS & LECTURES from C. Coy on Vimeo.

15.10.09

Separados até que a morte os separe

Fui criado pelos meus pais em uma pequena casa onde, durante toda a minha infância, havia 1 banheiro. Até hoje, quando falo isso para minha esposa e alguns amigos, eles acham isso um absurdo.

Pensando bem, me dei conta de que todos os lugares, repúblicas, pocilgas, apartamentos em que morei, dispunham apenas de 1 banheiro também. Mesmo quando existiam 2 banheiros na planta da casa, o segundo não funcionava. Acho que sou homem de 1 banheiro só. Deve ser algum tipo de maldição.
Consigo até entender as facilidades que dois ou mais banheiros proporcionam. Eles devem diminuir e minimizar brutalmente alguns conflitos nas horas do rush domiciliar. O que eu não consigo entender é que dentro da mesma casa, um banheiro seja um terreno marcado, literalmente, por quem lá, mijou primeiro.
Não entra na minha cabeça, a razão pela qual algumas pessoas dizem que vão morar juntas ou se casar e daí separam tudo. Montam casas com banheiros separados, um para mulher, outro para o homem e muitas vezes, até os filhos tem banheiros individuais. Para que um moleque de três anos que nem sabe se limpar precisa de um banheiro?

As pessoas até montam casas para morar juntas, desde que as suas coisas não se misturem; o homem tem seu “quartinho” para suas “coisinhas”, a mulher tem seu quarto cheio de armários, e os filhos têm o espaço onde podem brincar. Ah, e é claro, cada um tem a sua televisão, nominal e intransferível com polegadas de acordo com a hierarquia que lhe cabe.
O metro quadrado dos cômodos e a geração das TVs variam de acordo com o poder aquisitivo, mas este fenômeno é observado desde a supernova classe média do ABC até as tradicionais famílias de Alagoas.

Daqui a pouco, vai virar moda os casais educarem seus filhos separadamente, apesar de estarem casados.
Em um casal com dois filhos, o marido cuida de um, a mulher cuida outro, assim não tem perigo de interferência, de um ensinar uma coisa errada pro filho que é responsabilidade do outro, assim a gente fica sabendo muito bem de quem é a culpa pelas cagadas do moleque.

Pois, é, morar sob o mesmo teto é uma coisa, morar junto é outra.

9.10.09

O basquete das meninas

Como é legal ver gente de talento fazendo uma coisa difícil dar certo.
Desde o século passado, amo, jogo, assisto basquete. Vi a WNBA nascer.
Vi um monte de gente dizendo que daria errado, que não teria espaço, que não teria mídia, que as meninas não teriam basquete suficiente para montar uma liga com a sombra da NBA.

A final da WNBA deste ano foi um espetáculo.
Realmente não foi igual a NBA. E só deu certo, por causa disso.
Indiana e Phoenix fizeram um baita jogo, ou melhor, um jogo histórico. Daqueles que os moleques daqui a 50 anos, que não conhecerão o mundo sem a WNBA, vão ver em documentários e contar como se tivessem assistido ao vivo.

Foi lindo para quem ama basquete. As meninas jogaram muito. Produziram lances raros e mostraram que fazendo a coisa de maneira séria e com profissionalismo, pode dar certo.
A história mostrou, mais uma vez, que a beleza do esporte é que depois que o jogo começa, a vitória não depende da aprovação de ninguém. Basta saber jogar.

8.10.09

Censura das oito

O Ministério Público do Rio encaminhou uma notificação ao autor Manoel Carlos, visando a readequação de uma personagem, vivida por uma atriz de 8 anos na novela “Viver a Vida”. A menina interpreta uma vilã. Não acompanho a novela, mas o fato no mínimo chama a atenção.

A notificação alega que a menina, por ter tal idade, não tem capacidade de suportar tal personagem e pode ter impactos psicológicos negativos por não saber separar a realidade da ficção ou sofrer pressão das pessoas contra sua personagem

Idéia pequena esta do Ministério Público, hein?
Primeiro e mais fundamental, toda esta argumentação da notificação, que eu resumi aqui (uma coisa que os advogados e juízes não têm é capacidade de síntese, né?!) pode ser a mais pura verdade como pode ser a mais deslavada mentira.
É como tentar prever um crime, enclausurando a vitima, antes do crime acontecer. Pode dar certo, mas a privação vale a pena?


Crianças são boas, más, educadas, mal-educadas, enfrentam dificuldades, chacotas, rótulos impostos pelos “amiguinhos” o tempo todo na mais crua e nua realidade de suas vidas. Agora a dramaturgia é um reflexo da vida, só isso. Ou proibimos o trabalho infantil na dramaturgia, ou o permitimos com o devido acompanhamento psicológico. Uma representação para verificar se a menina está tendo o acompanhamento adequado, isto sim, seria coerente, não este tipo de censura mascarada em forma de cuidados.
Macaulay Culkin deu uma piradinha, Val Kilmer deu uma bela pirada e nem era tão criança assim ao interpretar Jim Morrison, mas quantos atores e atrizes, mirins ou não, conseguem trabalhar sem problemas. Jodie Foster, por exemplo, interpretou personagens polêmicas em Taxi Driver e em Quando as Metralhadoras Cospem, depois envelheceu e amadureceu como pessoa e como atriz muto bem. Pelo que sei, a arte de atuar não está enquadrada entre os grandes trabalhos insalubres e de risco da humanidade.

Apesar de ser diferente, isto me lembra quando organizações que são compostas por uma minoria, que diz representar as minorias, não gostam que a dramaturgia dê destaque para personagens que se caracterizam por serem índios vilões, negros vilões, homossexuais vilões. Caramba, por que não? Só porque é da minoria (odeio esse nome “minoria”) não pode ser vilão? Se um é vilão, quer dizer que todo mundo com aquelas características é vilão? O argumento usado sempre é de que as minorias não são representadas nas telenovelas brasileiras adequadamente. Concordo!!! Mas já que alguém está fazendo algo errado, vamos cometer outro erro, só pra tentar empatar? Cuidado, a luta devia ser para acabar com o ciclo e não engrossar as bordas.

Para quem quiser ler a notícia.

7.10.09

Uma micronotícia, bem micro mesmo

Acabo de ver uma notícia no mínimo rasa no Jornal da Globo.
Ela falava que houve recordes de falência entre as empresas no último período avaliado no Brasil e que mais de 96% destas falências foram de microempresas.
A tal matéria apresentava um tom superior de sabedoria e sem se comprometer, discursava que o SEBRAE avalia, que as principais causas dessas perdas, são a falta de capacidade em gestão empresarial por falta dos microempresários e a falta de reconhecimento de mercado pelos mesmos.

Um dos principais entrevistados da matéria era o superintendente do SEBRAE, que afirmava que tais fatores são essências (não diga!) e que os microempresários brasileiros eram carentes de tais ferramentas.
Além do tom soberbo da matéria, o que mais me chamou a atenção é que nada foi aprofundado. Nem mesmo foi citado o aumento dos impostos recente para as microempresas. A taxação para uma empresa classificada no simples nos últimos reajustes subiu brutalmente. Quem presta serviços na área de produção, por exemplo, como muitos outros setores, tiveram um aumento de mais de 10% de tributação sobre qualquer trabalho realizado.

Isto seria como diminuir o gol, estabelecer que a regra de impedimento agora exija 3 adversários entre o atacante que é lançado e a linha de fundo, aumentar o peso da bola e daí, caso a média de gols do campeonato brasileiro caia, dizer que a culpa é meramente dos atacantes ou dos times despreparados.

Claro que existem vários microempresários que são despreparados, aventureiros ou precisam de ajuda, ou seja os fatos apresentados não deixam de ser verdade, mas quando levantamos um tema tão sério, que como a própria matéria apresentava, fala sobre/com pessoas trabalhadoras que geram 57% dos empregos do país, temos a obrigação de não sermos tão rasos ou soberbos e irmos um pouquinho além.

6.10.09

A lei do torcedor

Ainda na onda do policamente correto...

No início de um dia de trabalho, estava tomando café com alguns companheiros, quando a discussão de um velho assunto apareceu de uma nova maneira.
Um dos homens, pai de um pequeno menino, apresentava-se indignado com o fato de que seu filho sofrera uma intervenção descabida, realizada pelo seu professor de natação. O garoto, ao chegar para aula, vestindo um uniforme do Corinthians, tinha sido interceptado pelo professor, que afirmou que o agasalho do Corinthians era feio e o do São Paulo era bonito. O pai estava indignado, não simplesmente pelo fato dele mesmo ser corintiano e odiar o São Paulo, o que seria normal na lógica de torcedor, mas ele dizia estar bravo realmente como pai, por achar a intervenção do professor ilegítima. Falava ainda, que ia fazer uma reclamação oficial para diretoria da entidade que empregava o professor. E se fosse necessário tomaria as medidas legais para resolver o assunto. Iniciou-se daí, uma discussão, no meu ponto de visto saudável e extremamente importante na mesa.

Éramos cinco, todos profissionais do mercado de comunicação, então as opiniões, neste caso, são todas vindas de um universo social próximo em certa análise.
A maioria concordou com o pai, achando um grande absurdo na situação, pois o menino, ainda com três anos, está com a sua personalidade sendo formada.
Um professor jamais tem o direito de contestar posições sociais do aluno, contanto que elas não sejam desvios de caráter ou ilegais. E mais grave, por receber uma autoridade investida pelos próprios pais e pela escola, o profissional não pode distorcer o gosto e as escolhas da criança, quer elas sejam escolhidas pelo menino ou sejam ensinamentos dos pais ao guri. Isto poderia gerar traumas alarmantes ou silenciosos em uma personalidade em constituição. A atitude passa assim, a ser pouco educacional.
Além disso, o pai dizia não achar certo contratar uma pessoa, que sem motivos, criticava decisões dele para seu filho. Já que este é um papel, de decidir pelo garoto, cabe primeiramente aos pais até o momento em que o filho amadurece e pode escolher sozinho.

Eu, na verdade, concordei com tudo isso a não ser por um simples fato, que para mim parecia ser essencial na discussão. Estávamos falando sobre futebol. Levo muito a serio o esporte, e por levá-lo tão a sério, não posso deixar de acreditar que o esporte é extremamente divertido, e torcer por um time é uma emocionante brincadeira.
Considerando, pois eu não estava presente durante a ocorrência, que o professor fez um comentário sem maldade e violência, já que estava falando com uma pessoa de três anos com o qual tem algum laço de relacionamento, eu encaro o acontecido com certa relevância.
Óbvio que se houver qualquer intenção de agressividade impressa na situação, mesmo que verbal, isto faz do professor uma figura ridícula, a qual não pode nem permanecer próxima a crianças.

Se estivéssemos falando sobre religião, por exemplo, acho que o assunto seria mais delicado, mesmo acreditando que exista brecha para comentários, contestações e ensinamentos multilaterais, sempre que feitos com respeito. Mas tratando-se de um assunto tão profundo quanto crença religiosa, a autoridade precisa ser dada a alguém e em primeira instância acho que sempre deve ser dada aos pais.
Não acho que torcer por um time de futebol tenha tal profundidade, mesmo com algumas pessoas comparando o amor pelo time com algo santo, mesmo com a vitória ou a derrota de um time alterar tanto nossas emoções, mesmo eu tendo assistido a muito mais jogos do que missas em minha vida.
Veja, que sou torcedor apaixonado e praticante. E sou visceralmente, totalmente contra amigos, avós, tios, vizinhos, pessoas próximas, que levam pequenos uniformes, brasões ou qualquer tipo de manifestação provocativa aos pais até a maternidade no dia do nascimento do filho. Literalmente, se isso acontecer comigo, tais objetos sairão voando pela janela.

Acho que apesar da provocação saudável ser parte fundamental da torcida, é preciso ter limites e medidas para cada momento. Não gostaria de deixar para meu filho um mundo em que, pelo simples fato de torcer para um time diferente, uma pessoa agride a outra. Infelizmente, isto é uma prática comum. Espero que mude em pouco tempo. Acho que já estamos nos educando um pouco mais.
Mas também tenho muito medo de deixar para as próximas gerações um mundo politicamente correto em demasia, tão asséptico, que tudo seja regulamentado, legislado, carimbado e pré-avaliado.
Que mundo seria esse, sem confiar nem um pouquinho no ser humano? Será que a proteção valeria a pena? Prefiro deixar as coisas um pouquinho mais abertas, um pouco mais natural. Acho que pequenas provocações, pequenas porradas, pequenos conflitos fazem parte da vida, mesmo para uma criança e isto nos faz crescer, amadurecer e ficar mais fortes. E perceba que digo “pequenas e pequenos”. Sou a favor de que muita coisa, como a violência nos estádios e fora dele, seja legislada e coibida sem qualquer permissividade.
Mas prefiro um mundo em que a algumas coisas se afinem no âmbito da informalidade e não no âmbito oficial. Acho normal um professor fazer uma brincadeira sobre o time com um moleque, independentemente de sua idade. Acho normal o pai ensinar o filho a responder para o professor que são paulino é tudo bobo (creio que bambi seria um pouco demais para tal situação).

Sei que pelos pilares de educação da UNESCO, esta pode não ser a atitude mais correta, mas o que vou fazer? Prefiro um mundo assim. Acho normal também o pai virar para o professor e falar “Sou corintiano, meu filho é corintiano, não quero brincadeiras.”, mesmo que o argumento não seja tão racional.
Mas não acho nada normal a queixa no âmbito oficial ou legal. Senão, daqui a pouco, falar sobre futebol e adjacentes será enquadrado dentro dos assuntos em que todo mundo pensa 6 vezes antes de falar. Aqueles assuntos em que as pessoas acham bonito falar a resposta a qual todo mundo espera ouvir. Insisto, torcer por um time é tão emocionante, porque existem os adversários e dentro de limite saudável, nunca sabemos o que esperar.
E bem lá no fundo, não entendo porque tanta discussão, qualquer pessoa, com o mínimo de intelecto e bom senso, sabe que o agasalho santista é bem mais bonito do que dos gambás e dos bambis.