8.10.09

Censura das oito

O Ministério Público do Rio encaminhou uma notificação ao autor Manoel Carlos, visando a readequação de uma personagem, vivida por uma atriz de 8 anos na novela “Viver a Vida”. A menina interpreta uma vilã. Não acompanho a novela, mas o fato no mínimo chama a atenção.

A notificação alega que a menina, por ter tal idade, não tem capacidade de suportar tal personagem e pode ter impactos psicológicos negativos por não saber separar a realidade da ficção ou sofrer pressão das pessoas contra sua personagem

Idéia pequena esta do Ministério Público, hein?
Primeiro e mais fundamental, toda esta argumentação da notificação, que eu resumi aqui (uma coisa que os advogados e juízes não têm é capacidade de síntese, né?!) pode ser a mais pura verdade como pode ser a mais deslavada mentira.
É como tentar prever um crime, enclausurando a vitima, antes do crime acontecer. Pode dar certo, mas a privação vale a pena?


Crianças são boas, más, educadas, mal-educadas, enfrentam dificuldades, chacotas, rótulos impostos pelos “amiguinhos” o tempo todo na mais crua e nua realidade de suas vidas. Agora a dramaturgia é um reflexo da vida, só isso. Ou proibimos o trabalho infantil na dramaturgia, ou o permitimos com o devido acompanhamento psicológico. Uma representação para verificar se a menina está tendo o acompanhamento adequado, isto sim, seria coerente, não este tipo de censura mascarada em forma de cuidados.
Macaulay Culkin deu uma piradinha, Val Kilmer deu uma bela pirada e nem era tão criança assim ao interpretar Jim Morrison, mas quantos atores e atrizes, mirins ou não, conseguem trabalhar sem problemas. Jodie Foster, por exemplo, interpretou personagens polêmicas em Taxi Driver e em Quando as Metralhadoras Cospem, depois envelheceu e amadureceu como pessoa e como atriz muto bem. Pelo que sei, a arte de atuar não está enquadrada entre os grandes trabalhos insalubres e de risco da humanidade.

Apesar de ser diferente, isto me lembra quando organizações que são compostas por uma minoria, que diz representar as minorias, não gostam que a dramaturgia dê destaque para personagens que se caracterizam por serem índios vilões, negros vilões, homossexuais vilões. Caramba, por que não? Só porque é da minoria (odeio esse nome “minoria”) não pode ser vilão? Se um é vilão, quer dizer que todo mundo com aquelas características é vilão? O argumento usado sempre é de que as minorias não são representadas nas telenovelas brasileiras adequadamente. Concordo!!! Mas já que alguém está fazendo algo errado, vamos cometer outro erro, só pra tentar empatar? Cuidado, a luta devia ser para acabar com o ciclo e não engrossar as bordas.

Para quem quiser ler a notícia.

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