30.9.09

Comemorações

Aniversário, Natal, Ano Novo sempre mexem comigo. Mesmo que eu me prepare e jure que os próximos serão diferentes, é inevitável.

Aniversário me deixa deprimido. Me faz pensar em tudo que não fiz em mais um ano e ainda quero fazer na vida. Mas o tempo de jogo está diminuindo. Não sei se estou nos descontos do primeiro tempo ou no começo do segundo.

Natal me deixa reflexivo. Me faz pensar em tudo que preciso fazer para melhorar o mundo. Como tem muita gente pensando o mesmo, talvez dê tempo.

Ano Novo me deixa bêbado. Me faz esquecer que quero e preciso fazer um monte de coisas. Como um ano já foi mesmo e outro está só começando, amanhã dá para descansar.

Minha vida é um baita ciclo vicioso.

26.9.09

O prefeito do universo

Não importa o critério que escolhamos para dividir ou entender nossa sociedade, norte e sul, ocidental e oriental, geopolítica, étnica, religiosa, histórica, existe um elemento que impera no modo em que nos organizamos: a representatividade.
Sempre buscamos, elegemos, reconhecemos, descobrimos líderes capazes de representar nossos traços mais intrínsecos, aquilo que nos define. Líderes que sejam capazes de manter nossas conquistas e conquistar nossos novos desejos e pedidos.


É assim que a maioria de nossa sociedade funciona. Nos juntamos para ganhar força e aceitamos/delegamos o poder de/para um representante do grupo.

Síndicos de prédio, líderes de classe no colégio, vereadores, padres, rabinos, lamas, senadores, senhores feudais, gerentes, diretores, governadores, presidentes, generais, juízes, reis, rainhas, papas. Esta lista tende ao infinito.

Agora, existe uma extensão em que o ser humano não consegue achar representatividade, ou em que pelo menos, não houve acordo nos últimos milhares de anos: o âmbito geral.
Esta ausência, este conjunto vazio diz muito sobre nosso comportamento social.
E que ninguém venha me falar que a ONU representa a humanidade, por favor. Este texto trata de um assunto lúdico, mas está longe de ser uma piada.
Não conseguimos estabelecer esta representatividade, porque não nos vemos como iguais, não nos colocamos no todo, não toleramos as diferenças realmente e não estamos nem perto de atingir esse nível de aceitação. E mais, será que queremos? Será que não achamos que isso podaria nossa identidade?

É aí que nasce o conceito do PREFEITO DO UNIVERSO.
Como nossas bobagens e nossos acertos já ultrapassam a fronteira mundial, é melhor pensar em um alguém que suporte um cargo para decisões universais.

E quem muito além de representar a todos, se enxerga como igual a todos?
Quem é a pessoa na história atual da humanidade que teria habilidade para cuidar do geral?
Quem conseguiria tomar as decisões necessárias sem privilégios, sem protecionismos e com coragem de agradar ou desagradar, sem dar atenção para esta bobagem de aprovação?
Quem seria capaz de não ficar calculando as diferenças entre o bem da maioria ou os direitos de todas as minorias? Dane-se a maioria e as minorias. Quem seria capaz de enxergar o que precisa ser feito e fazer?
Quem teria a sabedoria para evitar o desastre, se fosse possível; ou provocaria o cataclismo de uma vez, se fosse necessário?

Quem é o nosso representante definitivo? Quem seguraria este pepino?
Quem é o candidato ideal para ser o PREFEITO DO UNIVERSO?

22.9.09

A professora e o muro

Numa cidade do interior do Rio Grande do Sul, uma professora fez um aluno de 14 anos pintar o muro da escola que ele havia pichado.
A escola tinha sido pintada, antes do ocorrido, durante um mutirão feito pela comunidade local.
Como o mundo ficou sabendo dessa notícia? Um colega de classe gravou o vídeo no celular que se espalhou, óbvio.

A mãe do aluno, achando que o filho foi humilhado, apresentou uma queixa no conselho tutelar da cidade.
Se eu fosse o “conselho tutelar de um homem só”, plagiando um gaúcho mais ou menos famoso, esta decisão seria bem complexa.


Já tive a oportunidade de presenciar alguns mutirões de reformas em escolas situadas em lugares extremamente carentes de recursos para educação.
Vi o quanto a comunidade e principalmente as crianças valorizam pequenas melhoras feitas ao local para onde elas se locomovem todos os dias, às vezes sem acesso a transportes públicos.
Vi escolas que eram dentro de currais. Vi escolas que pareciam currais. Vi escolas dentro de garagens em que o bebedouro ficava ao lado do escapamento de um carro.
Vi como uma simples pintura pode incentivar os pequenos a irem para aula por alguns dias. O ser humano é um bicho engraçado. Mas este não é o ponto aqui, vamos ao que interessa.

A professora, além de fazer o aluno repintar o muro, ofendeu o garoto verbalmente, chamando-o de bobo da corte.
Neste momento, ela perdeu toda razão. A ofensa não faz nenhum impasse progredir; pode até desopilar o fígado e ser necessária em alguns momentos, mas não resolve nada, ainda mais em uma sala de aula.

Agora, eu não tenho dúvidas de que se chegasse aos meus ouvidos que meu filho havia pichado o muro de seu colégio e a professora tinha feito ele pintar novamente a parede, eu iria imediatamente para escola. Iria dar parabéns à professora pela rapidez e eficácia na sua atitude e também agradecer a ela, pois saberia que além de mim, alguém está realmente prestando atenção e se esforçando par tornar meu filho um cara decente.

Às vezes, nós erramos e acertamos quase ao mesmo tempo. Nestas horas, a análise deve ser feita com muita clareza, pois uma coisa não legitima nem desvalida a outra.
A professora cometeu um erro crasso ao ofender o aluno, isto sim, merece interferência e medidas. Mas, ela acertou imensamente ao fazer o garoto reparar seu estrago, já que ele tinha esta oportunidade. Não é sempre que não temos a chance de reparar os estragos que fazemos. Isto é bem melhor do que obrigar um garoto a colocar as mãos para trás e pedir desculpas. Uma desculpa em alguns casos não basta, ainda mais quando você não tem a dimensão de sua atitude. Esta professora ajudou o garoto a ter a compreensão de seus atos.
E veja, que não estou falando puramente da pichação. Acho que em algumas instâncias, ela é muito representativa e válida. Mas qualquer cidadão precisa respeitar e compreender o valor do trabalho alheio.

Quem dera a vida fosse sempre assim. Pegou, devolva. Mentiu, fale a verdade. Votou errado, aprenda a votar. Superfaturou, restitua com juros. Indicou um parente para o seu gabinete, ambos percam o emprego. O Brasil precisa que mais gente comece a pintar os muros que picharam por aí.

Quem quiser ler a notícia clique aqui.

9.9.09

Um símbolo infantil - A coxinha

A descoberta de que o senado brasileiro é corrupto, o quase fim da crise mundial (que nem foi tão mundial assim), o sumiço do cantor Belchior (diga-se de passagem, ele estava meio sumido há 20 anos), a queda da taxa dos juros - entre as várias notícias que foram eleitas para povoar a mídia nos últimos dias, uma decisão jurídica importantíssima passou quase desapercebida, se não fossem algumas vozes abafadas, quase silenciadas: a proibição da venda de coxinhas e afins nas cantinas escolares de São Paulo.

De bate pronto, este assunto pode ser engraçado e ter sua importância subestimada, mas analisando suas conseqüências a fundo, ele é algo de suma relevância em um retrato da sociedade que estamos construindo.

A primeira controvérsia é o absurdo de se proibir a venda de coxinhas nas escolas infantis, quando os refeitórios de qualquer empresa podem continuar servindo a guloseima para adultos. Se tem uma fase da vida em que a gente pode comer as coisas sem grandes traumas, culpa, pesos na consciência e na barriga, esta fase é a infância. Toda criança tem um metabolismo incrível e um poder de adaptação melhor ainda.
Claro, que não sou nutricionista e não estou expondo nenhum dado científico aqui, mas estou falando de bom senso. Quando nos tornamos adultos, pensamos no peso, no colesterol, no cardilogista que vai encher nosso saco, no endocrinologista que vai encher nosso saco, na nutricionista que vai encher nosso saco, no tanquinho do Brad Pitt, na barriga da Julia Roberts. Para uma criança, este universo da culpa criada pelo desgraçado que inventou o termo “qualidade de vida” não existe. Ou alguém se lembra de já ter visto uma cena assim quando criança:

SALA DE AULA – 7 DA MANHÃ
Na classe da 4ª B, a professora faz a chamada. A classe está cheia de alunos.

Ação principal: Professora (23 anos), Mariana (9 anos), Naiara (9 anos), Aluna 3 (10 anos).

Obs.: A aluna 3 é repetente.

Professora: Mariana?
Mariana: Presente.
Professora: Naiara?
Naiara: Presente.
Professora: Pedrinho?... Pedrinho?
Aluna 3: O Pedrinho faltou, professora.
Mariana: Nossa, o Pedrinho faltou de novo?
Aluna 3: Pois é... é que o triglicéries dele está muito alto.
Mariana: Sério?
Aluna 3: Sim, ele não sabe mais o que fazer.
Naiara: Eu ouvi dizer que a Julinha da 3ªB teve isso o ano passado e ela foi num médico ótimo. Mas, ela não pode comer Bolin Bola e pipoca doce até hoje.
Aluna 3: É... triglicéries é coisa séria.

Poxa, criança deve esquentar a cabeça com as coisas da infância, que digamos de passagem já não são poucas. É uma falta de generosidade querermos que os guris levem uma vida com a privação adulta.
Eu ainda me lembro da minha época de moleque no colégio de freiras em que eu juntava dinheiro para poder comprar as fichinhas redondas coloridas de plástico vendidas na cantina, as quais você trocava por lanches. Não era permitido comprar diretamente o lanche com dinheiro, você precisava possuir as fichas coloridas, só elas te davam direito ao lanche. Somente anos mais tarde, fui perceber que as fichinhas redondas de plástico das freiras, tão presentes na memória da minha infância, eram na verdade fichas de cassino.
Me recordo de todos os meninos e meninas de fichinhas coloridas em mãos, aguardando a “Tia da Coxinha” chegar. A “Tia da Coxinha” era uma figura recorrente em quase todos os colégios de Santo André. Vários amigos meus, que estudavam em outras escolas também lembram das suas “Tias da Coxinha”. No meu colégio, esta figura era representada por uma senhora negra de cabelinhos brancos, que um pouco após ao sino do recreio soar, chegava com uma cesta de palha muito maior do ela carregada de coxinhas, bolinhos de carne e esfihas. As crianças a cercavam imediatamente e ela mal consegui chegar ao seu destino, que era balcãozinho de madeira onde apoiava a cesta e trocava quitutes por fichas de cassino. Parecia uma espécie de pop star, tentando atravessar uma multidão.
Logo que ela abria a cesta de palha, subia aquela fumaça e saía aquele cheiro de coxinha feita na hora. Era a realização plena da molecada. Depois de comer uma coxinha, ou um bolinho, todo mundo ia jogar bola feliz. Tinha dias que eu não tinha grana para comprar a famosa coxinha, mas não fazia mal, sempre tinha alguém para te dar um teco, que seria retribuído, quando a coxinha fosse minha.
Não me sai da cabeça o pensamento de como seria esta cena hoje em dia nas esolas em São Paulo. A velha senhora negra de cabelinhos brancos vendendo suas coxinhas no meio da criançada e sendo bruscamente abordada por um tropa de elite de fiscais. A velhinha correndo, tentando esconder e se livrar das coxinhas, os policiais derrubando e chutando a cesta no chão, as crianças enchendo a boca para comer tudo de uma vez e os fiscais fazendo elas cuspirem e vomitarem para terem a prova do crime.

Pois é, com esta proibição, o que as cantinas vão vender agora? Imagine só, se a “Tia da Couve Flor Cozida” vai fazer sucesso, ou então, a “Tia da Proteína de Soja”. Ou pior, imagine como serão as lembranças dessas crianças no futuro.

A coxinha, além de tudo, é um símbolo do politicamente incorreto, daquilo que a gente sabe que não é muito certo, mas vale a pena.
Fico com medo e rezo para que não criemos de jeito nenhum uma geração de soldados politicamente corretos. A vida politicamente correta pode ser muito chata e perigosa. As crianças já não brincam tanto na rua hoje em dia, não assistem mais ao Mussum, o Pica-Pau já não faz tanto sucesso, a TV Pirata não está mais nos planos da Globo, o Jô Soares nunca mais se vestiu de Capitão Gay, Jânio Quadros não pode mais ser prefeito e agora, a coxinha foi proibida nas cantinas. O mundo está ficando monótono.
É engraçado que tenha que vir dos EUA, o país que praticamente inventou o politicamente correto, a nossa última esperança. Homer Simpson, por favor, salve para nossas crianças de uma vida na Suíça!

Reis

Vi muitas pessoas nos dias que sucederam a morte de Michael Jackson, tentando estabelecer rankings entre Michael e Elvis.
Talvez estas comparações aconteçam pelo simples fato dos dois artistas se enquadrarem na mesma categoria de profissão na declaração do imposto de renda, uma idéia que só pode acontecer no âmbito dos mortais na tentativa de achar medidas, métricas, números para algo que não se mede.
Acho estes julgamentos puras bobagens, não há como comparar genialidade. Não há como comparar arte. Não há como comparar seres humanos que transcendem os limites da lógica em qualquer que sejam suas áreas.


Óbvio que você pode gostar mais de um artista do que de outro, mas gosto é gosto e não se discute. Mesmo no esporte, em que os números (de gols, de vitórias, de pontos, de títulos) definem primeiros, segundos e terceiros é quase impossível comparar jogares geniais legitimamente, quando levados em conta, além dos números, fatores como talento, inteligência, habilidade e espírito vencedor.
Na música então, fica mais, muito mais difícil. Mas foi engraçado pensar quais critérios este ranking sem sentido teria:

Elvis foi rei do rock. Michael, rei do pop.
Elvis foi protagonista em 31 filmes. Michael reinventou o videoclipe.
Elvis fez um show no Hawaii mais visto do que a chegada do homem à lua. Michael consagrou o Moonwalker.
Elvis vendeu mais de 1 bilhão de discos. Michael tem o disco mais vendido da história.
Elvis dançava de um jeito que ninguém conseguia imitar. O mundo inteiro tenta imitar os passos de Michael.
Elvis balançava a pelvis. Michael punha a mão lá e dava um gritinho.
Elvis morou em Graceland. Michael em Neverland.
Elvis morreu sozinho. Michael também.
Elvis se vestia com roupas brilhantes. Michael com roupas rasgadas.
Elvis teve um caso com a fascinante Ann Margareth. Michael namorou com a estonteante Brooke Shields.
Elvis ficou amigo de Sammy Davis Jr. Michael homenageou Sammy Davis.
Elvis casou-se com Priscilla. Michael com Lisa Marie.
Priscilla quis se divorciar de Elvis. Lisa de Michael.
Elvis cantou algumas músicas dos Beatles. Michael comprou os direitos autorais dessas músicas.
Elvis ficou atrás das grades em Jailhouse Rock. Michael pagou fiança.
Elvis nunca fez shows fora dos Estados Unidos e Canadá. Falam que Michael veio de outro planeta.
Elvis engordou. Michael emagreceu.
Elvis will be always on my mind. Michael will always be there.
Elvis cantava como um negro. Michael também.
Elvis é melhor do que Sinatra? E Michael?
Michael será lembrado para sempre. Elvis não morreu.
Elvis é incomparável. Michael também.

25/06/2009

Há algumas horas, acredito que o Michael Jackson tenha morrido. Digo acredito, pois só vou ter certeza mesmo, depois que colocarem o corpo no caixão, jogarem terra em cima e ele não quebrar tudo, ressurgir, sair cantando e dando risada.



A morte do cara realmente me fez pensar em algumas coisas e também observar algumas pessoas ao meu redor, que se tocaram de algumas formas estranhas e inesperadas.
Ao sair do trabalho, entrei em um táxi e dei a notícia para um taxista, que não era uma das pessoas que trabalham “plugadas no monitor” e que acompanharam a notícia sair de homepage em homepage até chegar na CNN e todo mundo ter certeza do óbito. O taxista e eu começamos a conversar sobre o ocorrido e ele, um motorista de 42 anos, se lembrou que quando jovem imitava os gestos e queria dançar igual ao Michael Jackson. Claro que isto não é algo magnífico ou isolado, pois qualquer um, que tenha vivido os anos 80, já tentou pelo menos uma vez dar uma dançada igual Beat It ou Billie Jean. Eu mesmo, loiro, branquelo e latino já tentei. Mas o que me chamou atenção é que quase todo mundo a minha volta, inclusive a moçada mais nova no trabalho, na casa dos vinte e poucos anos, que nasceu depois do Thriller, na hora que soube da notícia, pensou sobre o melhor que o cara já tinha feito, ou pelo menos puxaram as boas lembranças que tinham. Claro, excetuando-se as piadas imediatas e oportunas pelo Twitter. Para mim, que nasci em 1975, foi inevitável pensar que havia morrido uma das forças, uma das marcas, que formaram a imagem da minha geração para ela mesma.

Mas foi inevitável também um pensamento bem simples e direto – será que ele, “o cara” com 50 anos, morreu realizado? Será que morreu se achando um cara de sucesso? Será que, talvez o artista mais completo e visado dos últimos anos, quando percebeu que era a “hora” estava em paz consigo mesmo?
Lógico que é impossível responder isso, a não ser que você seja aquele moleque do Sexto Sentido. Mas uma medida externa que pensei é: Será as pessoas trocariam de lugar com o Michael Jackson? Mas digo trocar de lugar mesmo, sem condições, sem poréns. Você toparia o sucesso, ter suas idéias reverenciadas no mundo todo, ser reconhecido como gênio em seu trabalho por merecimento, ter êxito em quase tudo, conhecer o mundo, conhecer todo tipo de gente, ter grana que parecia infinita, realizar praticamente todos seus desejos, mesmo que depois o preço a ser pago fosse a perda quase total do seu equilíbrio físico e provavelmente psicológico? Você aceitaria numa boa que as pessoas te acusassem de pedofilia, de racismo, de insanidade e de irresponsabilidades infindáveis? Você trocaria sua vida pela dele e ao final ainda falaria “tá beleza, tudo valeu a pena”?
Não sei se eu toparia, mas como alguém que não era mais fã do Michael Jackson desde os meus 12 anos de idade, considero que com todas as loucuras, processos, deformações, o “negão” teve uma vida de sucesso, fez a diferença.

A partir do momento em que você topa viver dentro das regras de uma sociedade, sua vida passa a pertencer parte a você, parte a essa própria sociedade. Suas decisões devem passar pelo crivo das decisões tomadas pela sociedade por você. Isso é normal na vida de todo ser social, mas a independência para ousar, acertar, se enganar e se avaliar individualmente é essencial para seguirmos em frente, aprendermos, progredirmos, fazermos coisas novas. O que me parece triste na vida de grandes estrelas que criam/dependem do interesse avassalador do público é que embora pareçam portadores de um poder imensurável, a parte de suas vidas que pertence a eles mesmos, a independência, a vontade própria, ficam tão destorcidos, tão sem sentido, que perdem a razão de ser. É como se a vida não pertencesse mais a quem a vive, mas fosse um domínio público descabido e perigoso. É como se a auto-avaliação não importasse mais. Você já é dono de tantas realizações, que toda e qualquer avaliação só vale ser feita no âmbito coletivo mundial. Talvez seja por isso, que vi várias pessoas, fãs de músicas, dizendo que o verdadeiro Michael Jackson morreu logo após o álbum Thriller. Talvez o artista, aquele que fez coisas geniais, tenha conseguido levar a carreira ao ápice até ali e depois tenha ficado difícil demais recobrar o parâmetro, o centro, o equilíbrio, a reflexão solitária, tantas vezes necessária, para fazer algo puro, sem qualquer interferência.

No fim das contas, a frase, dentre as músicas dele, que me veio a cabeça foi I'm gonna make a change / for once in my life / It's gonna feel real good, / Gonna make a diference / Gonna make it right...
Eu sempre adorei este clipe, desde a primeira vez que vi e com certeza essa é a estrofe que eu colocaria nos dizeres da lápide do cara. Óbvio que, nenhum assessor de imagem aprovaria, pois falariam que “I am gonna make a change”, daria brechas para falar que ele mudou de rosto, de cor, etc. Mas se o mundo não tivesse assessores de imagem, está é a frase que deveria estar escrita lá.