22.9.09

A professora e o muro

Numa cidade do interior do Rio Grande do Sul, uma professora fez um aluno de 14 anos pintar o muro da escola que ele havia pichado.
A escola tinha sido pintada, antes do ocorrido, durante um mutirão feito pela comunidade local.
Como o mundo ficou sabendo dessa notícia? Um colega de classe gravou o vídeo no celular que se espalhou, óbvio.

A mãe do aluno, achando que o filho foi humilhado, apresentou uma queixa no conselho tutelar da cidade.
Se eu fosse o “conselho tutelar de um homem só”, plagiando um gaúcho mais ou menos famoso, esta decisão seria bem complexa.


Já tive a oportunidade de presenciar alguns mutirões de reformas em escolas situadas em lugares extremamente carentes de recursos para educação.
Vi o quanto a comunidade e principalmente as crianças valorizam pequenas melhoras feitas ao local para onde elas se locomovem todos os dias, às vezes sem acesso a transportes públicos.
Vi escolas que eram dentro de currais. Vi escolas que pareciam currais. Vi escolas dentro de garagens em que o bebedouro ficava ao lado do escapamento de um carro.
Vi como uma simples pintura pode incentivar os pequenos a irem para aula por alguns dias. O ser humano é um bicho engraçado. Mas este não é o ponto aqui, vamos ao que interessa.

A professora, além de fazer o aluno repintar o muro, ofendeu o garoto verbalmente, chamando-o de bobo da corte.
Neste momento, ela perdeu toda razão. A ofensa não faz nenhum impasse progredir; pode até desopilar o fígado e ser necessária em alguns momentos, mas não resolve nada, ainda mais em uma sala de aula.

Agora, eu não tenho dúvidas de que se chegasse aos meus ouvidos que meu filho havia pichado o muro de seu colégio e a professora tinha feito ele pintar novamente a parede, eu iria imediatamente para escola. Iria dar parabéns à professora pela rapidez e eficácia na sua atitude e também agradecer a ela, pois saberia que além de mim, alguém está realmente prestando atenção e se esforçando par tornar meu filho um cara decente.

Às vezes, nós erramos e acertamos quase ao mesmo tempo. Nestas horas, a análise deve ser feita com muita clareza, pois uma coisa não legitima nem desvalida a outra.
A professora cometeu um erro crasso ao ofender o aluno, isto sim, merece interferência e medidas. Mas, ela acertou imensamente ao fazer o garoto reparar seu estrago, já que ele tinha esta oportunidade. Não é sempre que não temos a chance de reparar os estragos que fazemos. Isto é bem melhor do que obrigar um garoto a colocar as mãos para trás e pedir desculpas. Uma desculpa em alguns casos não basta, ainda mais quando você não tem a dimensão de sua atitude. Esta professora ajudou o garoto a ter a compreensão de seus atos.
E veja, que não estou falando puramente da pichação. Acho que em algumas instâncias, ela é muito representativa e válida. Mas qualquer cidadão precisa respeitar e compreender o valor do trabalho alheio.

Quem dera a vida fosse sempre assim. Pegou, devolva. Mentiu, fale a verdade. Votou errado, aprenda a votar. Superfaturou, restitua com juros. Indicou um parente para o seu gabinete, ambos percam o emprego. O Brasil precisa que mais gente comece a pintar os muros que picharam por aí.

Quem quiser ler a notícia clique aqui.

2 comments:

mu said...

Na verdade, depende do que ele pichou. Ela pode ter repreendido um futuro artista.

Unknown said...

É... é por isso que não tenho filhos...