9.9.09

25/06/2009

Há algumas horas, acredito que o Michael Jackson tenha morrido. Digo acredito, pois só vou ter certeza mesmo, depois que colocarem o corpo no caixão, jogarem terra em cima e ele não quebrar tudo, ressurgir, sair cantando e dando risada.



A morte do cara realmente me fez pensar em algumas coisas e também observar algumas pessoas ao meu redor, que se tocaram de algumas formas estranhas e inesperadas.
Ao sair do trabalho, entrei em um táxi e dei a notícia para um taxista, que não era uma das pessoas que trabalham “plugadas no monitor” e que acompanharam a notícia sair de homepage em homepage até chegar na CNN e todo mundo ter certeza do óbito. O taxista e eu começamos a conversar sobre o ocorrido e ele, um motorista de 42 anos, se lembrou que quando jovem imitava os gestos e queria dançar igual ao Michael Jackson. Claro que isto não é algo magnífico ou isolado, pois qualquer um, que tenha vivido os anos 80, já tentou pelo menos uma vez dar uma dançada igual Beat It ou Billie Jean. Eu mesmo, loiro, branquelo e latino já tentei. Mas o que me chamou atenção é que quase todo mundo a minha volta, inclusive a moçada mais nova no trabalho, na casa dos vinte e poucos anos, que nasceu depois do Thriller, na hora que soube da notícia, pensou sobre o melhor que o cara já tinha feito, ou pelo menos puxaram as boas lembranças que tinham. Claro, excetuando-se as piadas imediatas e oportunas pelo Twitter. Para mim, que nasci em 1975, foi inevitável pensar que havia morrido uma das forças, uma das marcas, que formaram a imagem da minha geração para ela mesma.

Mas foi inevitável também um pensamento bem simples e direto – será que ele, “o cara” com 50 anos, morreu realizado? Será que morreu se achando um cara de sucesso? Será que, talvez o artista mais completo e visado dos últimos anos, quando percebeu que era a “hora” estava em paz consigo mesmo?
Lógico que é impossível responder isso, a não ser que você seja aquele moleque do Sexto Sentido. Mas uma medida externa que pensei é: Será as pessoas trocariam de lugar com o Michael Jackson? Mas digo trocar de lugar mesmo, sem condições, sem poréns. Você toparia o sucesso, ter suas idéias reverenciadas no mundo todo, ser reconhecido como gênio em seu trabalho por merecimento, ter êxito em quase tudo, conhecer o mundo, conhecer todo tipo de gente, ter grana que parecia infinita, realizar praticamente todos seus desejos, mesmo que depois o preço a ser pago fosse a perda quase total do seu equilíbrio físico e provavelmente psicológico? Você aceitaria numa boa que as pessoas te acusassem de pedofilia, de racismo, de insanidade e de irresponsabilidades infindáveis? Você trocaria sua vida pela dele e ao final ainda falaria “tá beleza, tudo valeu a pena”?
Não sei se eu toparia, mas como alguém que não era mais fã do Michael Jackson desde os meus 12 anos de idade, considero que com todas as loucuras, processos, deformações, o “negão” teve uma vida de sucesso, fez a diferença.

A partir do momento em que você topa viver dentro das regras de uma sociedade, sua vida passa a pertencer parte a você, parte a essa própria sociedade. Suas decisões devem passar pelo crivo das decisões tomadas pela sociedade por você. Isso é normal na vida de todo ser social, mas a independência para ousar, acertar, se enganar e se avaliar individualmente é essencial para seguirmos em frente, aprendermos, progredirmos, fazermos coisas novas. O que me parece triste na vida de grandes estrelas que criam/dependem do interesse avassalador do público é que embora pareçam portadores de um poder imensurável, a parte de suas vidas que pertence a eles mesmos, a independência, a vontade própria, ficam tão destorcidos, tão sem sentido, que perdem a razão de ser. É como se a vida não pertencesse mais a quem a vive, mas fosse um domínio público descabido e perigoso. É como se a auto-avaliação não importasse mais. Você já é dono de tantas realizações, que toda e qualquer avaliação só vale ser feita no âmbito coletivo mundial. Talvez seja por isso, que vi várias pessoas, fãs de músicas, dizendo que o verdadeiro Michael Jackson morreu logo após o álbum Thriller. Talvez o artista, aquele que fez coisas geniais, tenha conseguido levar a carreira ao ápice até ali e depois tenha ficado difícil demais recobrar o parâmetro, o centro, o equilíbrio, a reflexão solitária, tantas vezes necessária, para fazer algo puro, sem qualquer interferência.

No fim das contas, a frase, dentre as músicas dele, que me veio a cabeça foi I'm gonna make a change / for once in my life / It's gonna feel real good, / Gonna make a diference / Gonna make it right...
Eu sempre adorei este clipe, desde a primeira vez que vi e com certeza essa é a estrofe que eu colocaria nos dizeres da lápide do cara. Óbvio que, nenhum assessor de imagem aprovaria, pois falariam que “I am gonna make a change”, daria brechas para falar que ele mudou de rosto, de cor, etc. Mas se o mundo não tivesse assessores de imagem, está é a frase que deveria estar escrita lá.

1 comment:

mu said...

Por isso o Bono Vox é sério candidato a Prefeito do Universo. Mesmo depois de tanto tempo como popstar, ainda consegue manter uma certa compostura. Se bem que acho mais fácil quendo se tem uma banda: amigos pra dizer "pô, Bono, isso não!" são essenciais.

Mas, pensando bem, onde eles estavam quando o cara resolveu se chamar "Bono Vox"?