4.2.10

Resmungo


Em outro tempo (ah!, a longínqua década de 80) e em outra cidade (ah! a longínqua Presidente Prudente), animais de estimação não custavam caro - nem na hora de comprar, nem pra cuidar.

Uma vez por mês aparecia alguém querendo dar um filhote, mesmo de raça, porque não ia conseguiria aguentar ter mais um cão ou gato. Minha família mesmo entrou nessa dança: acabamos com duas fêmeas, Pastor e Huski, que davam cria pelo menos uma vez por ano, e os filhotes que não conseguíamos vender, dávamos. Às vezes rolava até um certo pânico: nossos cães nunca davam ninhadas de menos de 6, e quando ainda sobravam uns 3 cachorros a gente ficava naquela de "o que a gente vai fazer com esses bichos?", e saía avisando todo mundo que tava distribuindo cachorro pra quem quisesse.

Não que fosse caro cuidar dos bichos, era mais um problema de espaço. Mesmo vacinando e levando pro veterinário de vez em quando, sustentar um animal era bem tranquilo. Nossos cães comiam de tudo que sobrava em casa, nada de Bonzo Sabores ou Frolic Júnior. De vez em quando misturávamos restos de comida com uma ração mais legal, principalmente pros mais novos. E, excetuando-se alguma doença fulminante tipo uma Verminose Darth Vader, os bichos eram bem auto-sustentáveis. Às vezes um ficava meio cabisbaixo porque comeu alguma coisa que não devia ter comido, outro machucava a pata porque andou onde não devia ter andado, e a vida seguia.

Mas porque estou aqui resmungando, afinal? Bom, acontece que a gata da minha namorada, a Vênus, passou mal na semana passada. A gente acordou com um barulho estranhíssimo, e lá estava a bicha rodando a cabeça e vomitando que nem n'O Exorcista. Língua roxa, cara inchada. Estranhíssimo, parecia que ela tinha tomado alguma coisa venenosa, ou tinha sido picada por algum bicho muito sinistro.

Na verdade, a minha namorada que me acordou, me intimando pra ir pra um Pet-socorro. Depois de me recompor do susto, lá fomos. A bichinha foi internada, e receberíamos notícias em breve. As notícias que vieram depois de quase um dia de internação foram "ainda não sabemos, não conseguimos nem tirar sangue porque ela está muito inchada, então não temos nenhum exame".

Mais um dia de internação, exames finalmente feitos: inconclusivos. Não se sabe até hoje o que aconteceu, chutaram que ela "pode ter tomado alguma coisa venenosa, ou ter sido picada por algum bicho muito sinistro." (notou a semelhança com o que eu disse que parecia lá em cima? Assim é fácil: eu, que mal diferencio um Siamês de um Angorá, podia dizer isso)

Mas a conta do hospital eles sabiam direitinho: dois dias de internação, soro e exames em geral totalizaram mais de mil reais.

MIL REAIS? Desculpa, eu até acho a Vênus uma gata muito simpática, mas dava pra alimentar uma criança de rua por um mês com essa grana. Eu teria vergonha de dizer em público que gastei isso com um hospital pra gato.

Lógico que na hora você desespera (e nisso os hospitais de animais são iguaizinhos aos de humanos: feitos pra tomar o máximo de grana possível no seu momento de maior fragilidade) e paga o que for pra ver o seu bichinho bem. Mas, resumindo o resmungo: hoje em dia, em São Paulo, é foda ter um animal de estimação.

1 comment:

alessandra said...

ao sair da clínica, eu vi um pobre na rua e pensei: "dava pra alimentar a família inteira desse cara por três mêses com isso que eu gastei com essa gatinha de 3kg". vergonha. só quem tem $ tem o direito de freak out, quem não tem fica olhando pro bicho no chão da cozinha, esperando que ele fique bom.