19.2.10

Poesia e Realidade

Uma vez um certo camarada me disse que gostava de viver apenas olhando e pegando o melhor de cada um a sua volta.
Depois de algum tempo percebi que há algo omisso, egoísta neste lema, que a princípio parecia um jeito poético de encarar o caminho pela vida.

Pegar apenas o melhor significa deixar de notar e compartilhar as nuances, deixar de ver tons de cores, significa nunca escutar o lado B, fugir das porradas, ter que se limitar a apenas um filme com Jack Nicholson, uma música do Paul, significa se esquivar dos momentos difíceis, não ouvir os gritos de quem se ama, mesmo quando ela não tem razão, significa não se entregar de verdade, pois o melhor ainda pode estar por vir.


A beleza está no dia-a-dia, na história, nos infernos atravessados. Qual o valor da medalha se não houve jogo?
Ninguém gosta de sofrer, não. Longe disso. Mas eu adoro os lados Bs, adoro os tons de cinza, amo a perfeição dos defeitos de quem eu amo, pro que der e vier.
Quero perto de mim quem me gosta nas dificuldades, nas tentativas, no silêncio doído, nas grosserias, nos pedidos de ajuda que eu não faço. Estas pessoas me fazem melhor.

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